MÊS DE ABRIL: COMEMORATIVO DOS POVOS ORIGINÁRIOS, ENTREVISTA DE JAQUELINE HAYWA

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Jaqueline Haywa.


Minibiografia: Professora, Escritora e Cacica do Povo Pataxó Hã Hã Hãe, etnia Kariri Sapuya, de Ribeirão Pires. Referência na luta pelos direitos dos indígenas da região ABCDRR. Cursou faculdade de Estudos Sociais, Geografia e Pedagogia. Autora do livro “Reconstruindo a História”, no qual traduz em poemas parte de sua trajetória de vida e de sua família. Na pandemia de COVID19, ao descobrir que não havia vacina para a população indígena de sua cidade devido à ausência de cadastro formal desse grupo, Jaqueline passou a lutar com ainda mais determinação e, em 2021, foi eleita para integrar vertente de “promoção” no Conselho da Igualdade Racial, representando os indígenas de Ribeirão Pires, em especial da família Pataxó Hã Hã Hãe, da etnia Kariri Sapuyá.Em fevereiro de 2023, levou a Funai o cadastro de 308 Pataxós de sua família. Em abril, esteve em Brasília com a ministra Sonia Guajajara e entregou para ela os documentos dos Pataxós no ABC pedindo que os povos Indígenas em contexto Urbano sejam inseridos nas políticas públicas. Em junho de 2023, o ministério Público ao conhecer a História entrou em contato com a Cacica iniciando um inquérito nas 7 cidades do ABC exigindo um plano de ação para o cadastro dos 3.000 indígenas que aparecem no censo 2023 na região do ABC. Foi contemplada com o recurso do projeto da Lei Paulo Gustavo e será filmado um documentário da sua História.


Como vê seus parentes na atual conjuntura? A ministra tem feito um trabalho em prol das diferentes etnias ? 


JAQUELINE HAYWA: Ministra dos povos indígenas Sonia Guajajara, vem enfrentando um grande desafio e várias derrotas, foi retirado do seu ministério a reponsabilidade da Demarcação dos Territórios indígenas, quem melhor poderia realizar esse trabalho se não o nosso próprio povo. Outra derrota muito significativa foi a aprovação pelos Deputados do projeto de que institui O Marco Temporal para a demarcação dos territórios indígenas. Então acredito que a pauta indígena não tem nenhuma importância para os Deputados e a Ministra não governa sozinha. Por outro lado esta sendo a primeira vez de um Ministério voltado para nós, o indígena como protagonista da sua própria História, pela primeira vez nosso povo esta sendo ouvido. Fui recebida por ela em abril de 2023. Levei as demandas do nosso povo aqui no grande ABC paulista, são 308 Pataxós que foram por mim e minhas lideranças cadastradas e nossas demandas aqui nas cidades também devem ser ouvidas.


Quais as funções a serem desempenhadas por uma cacica? 


JAQUELINE HAYWA: Não imaginava muito bem qual seria minha função ao ser escolhida pelo meu povo aqui na cidade de Ribeirão Pires como a Cacica representante de todos, uma mulher indígena na cidade como poderia fazer algo, então resolvi ir a na aldeia Catarina Caramuru Paraguaçu onde mora parte da minha família na cidade de Pau Brasil na Bahia, pedir orientação para as lideranças da nossa família, meu primo Som Pataxó e sua mãe Pomba foram me esclarecendo muitas questões, a primeira é que deveríamos aparecer nos “números” para os autoridades terem o conhecimento da nossa existência, minha função foi liderar essas demandas, fazer o cadastro interno, levar ao conhecimento da FUNAI e de todas as prefeituras das cidades onde tinha um Pataxó da minha família, foi então que o Procurador do Ministério Público Dr. Steven Shuniti entrou em contato comigo tomando conhecimento da nossa existência instaurou um inquérito solicitando que as 7 cidades da região apresentasse um plano de ação para o cadastro dos indígenas nas cidades não somente para o Povo pataxó mas para os 3.031 indígenas que o Censo 2024 revelou existir na região. A função do Cacique é lutar pelo seu povo, seja nas aldeias ou nas cidades.


Quantos parentes em média tem hoje à sua etnia? Pesquisadores têm feito pesquisas sobre os diversos aspectos culturais do seu povo? 


JAQUELINE HAYWA: São cerca de 400 Pataxós Hã Hã Hãe que estão aqui no ABC Paulista, a Universidade UFABC entrou em contato comigo para pesquisarem e escreverem sobre a nossa História, como aconteceu essa diáspora indígena o que fez com que o meu pai, o primeiro Pataxó a chegar em São Paulo viesse parar aqui, a História dessa violência tem que aparecer nos livros didáticos, estou muito feliz com esse contato que foi feito pela Universidade e vou entrar como a primeira Pataxó do meu povo para o Mestrado, minha intenção é deixar escrito a nossa História como povo Indígena vivendo no contexto Urbano. Há a legislação mas os professores não tem formação ainda hoje.


O que as instituições de ensino deveriam efetivamente ensinar a respeito dos povos originários?


 JAQUELINE HAYWA:  A lei 11.645 fala da obrigatoriedade do ensino sobre os povos indígenas nas escolas, mas não é efetivamente cumprida. Falta formação para os professores e material didático para esse conhecimento, então na minha visão a aproximação de uma Universidade com o nosso povo é um grande avanço, a primeira providência seria a realização de pesquisas, formação de cursos e materiais dentro dessas instituições para a formação dos futuros professores.


Quais sai seus futuros projetos e mensagem para a juventude? 


JAQUELINE HAYWA: Entrar na Universidade e mostrar a presença indígena, espero que a partir disso, os jovens da nossa família possam se sentir motivados e que não tenham vergonha de serem quem são, nós somos a semente de um povo que foi massacrado, expulso e humilhado há centenas de gerações, e quem deveria sentir vergonha são as pessoas que nos dias atuais ainda acham que somos folclore, somos uma fantasia e que a todo calar as nossas vozes.

Por: Renata Barcellos (BarcellArtes) - Professora, Poetisa, Escritora e Membro Correspondente do Instituto Geográfico de Maranhão, Apresentadora do programa Pauta Nossa da Mundial News RJ.




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