FESTIVAL CINE LATINO DE TOULOUSE CONTRIBUIÇÕES BRASILEIRAS

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Virginia Pignot.


Vamos ao cinema.

O trigésimo sexto festival cine latino de Toulouse, cidade do Sul da França, trouxe através de filmes, documentários, encontros e debates com associações franco/latino-americanas, com realizadores, escritores, encontros musicais, momentos de prazer, de reflexão, e às vezes de saudade ou de dor, quando a realidade ou ficção retratados te tocam particularmente. Transmito o endereço do site: www.cinelatino.fr Neste artigo, vou falar de dois filmes que misturam documentário e ficção. Dois longas-metragens seguem a vida de uma família em um determinado período de tempo: “Betania” nos lençóis maranhenses; “Samuel e a Luz” numa  região de montanhas onde a mata Atlântica está preservada, antes e depois da chegada da luz elétrica. Os dois filmes são como uma obra de arte: o realismo dos traços dos personagens, dos diálogos aí revelados, te fazem estar ao lado dos personagens, assim como mergulhar nas paisagens deles. Boa leitura, bom “passeio.”

Samuel e a luz: Meio ambiente preservado, compassos e descompassos na vida familiar

Filmado por Vinicius Girnys durante seis anos de modo descontinuo, o filme mostra a vida de uma família e de uma comunidade caiçara, que preserva a bela mata atlântica. A região montanhosa íngreme para além da pequena praia de Ponta Negra, impediu até hoje a construção de estradas, o acesso à comunidade se faz só pelo pelo mar. A cidade mais próxima é Parati, no litoral do estado do Rio de Janeiro.

No início do filme, a mãe de Samuel, e uma amiga lavam roupa no rio, cozinham na lenha... nas conversas entre elas, a violência doméstica é falada...Na familia de Samuel, cuidados e conhecimentos são transmitidos pelos pais aos filhos. Os homens pescam juntos, a pesca é abundante, mas com o passar do tempo, o pescado vai acabando. Pescadores foram manifestar contra a autorização dos grandes navios e empresas de pesca de fazer o arrastão que acaba progressivamente com espécies.  Acompanhamos as mudanças com a chegada da luz elétrica.

Betânia: Natureza exuberante e a delicadeza  das relações interpessoais

Neste caso o realizador e sua equipe vinham de S. Paulo, o filme foi feito em dois períodos de filmagem, na estação das chuvas, e da seca. Mas o realizador já tinha feito um curta-metragem com a Betânia original, parteira, que fez seu primeiro parto aos doze anos, quando voltava da escola, pois ouviu gritar uma mulher, foi acudí-la, o bebe já vinha saindo com os bracinhos que ela puxou, com sucesso... Se tornou parteira, chegando de moto, à pé, à cavalo, no leito de parturientes da região. Ela casou com um agricultor/ pescador, mestre do Bumba meu boi, teve filhos, e teve a infelicidade de perder a própria filha caçula de parto, mas o bebe sobreviveu e vivia com seu pai perto dos avós. Achei muito engraçado o papel do casal de turista francês, e muito delicada a maneira de filmar a intervenção de Betânia junto a sua filha que se tornou crente e alienada ao discurso do pastor, até descobrir que ele era um pilantra que sumiu com o dinheiro dos fiés.

Resumo dos filmes no programa do festival, e conclusão

Samuel e a Luz:”O jovem Samuel vive na exuberante Costa Verde brasileira. Filmado durante seis anos, ele assiste à chegada da eletricidade e a transformação da sua calma colônia de pescadores em um lugar de turismo badalado. O canto dos passarinhos e das ondas que quebram na praia são substituídos pelo barulho dos turistas e dos motores das lanchas. A chegada da modernidade trará luz ao coração dos habitantes?

Betânia: “Essa história familiar mistura cenas turbulentas da vida quotidiana, momentos preciosos de cultura ancestral acompanhados de cantos tradicionais, cenas saborosas da adaptação ao tempo mais “moderno”. Se inspirando em um documentário que ele tinha realizado sobre uma dirigente comunitária local, Marcelo Botta filma seu bando alegre de atores e atrizes, todos locais, com uma energia comunicativa”. 

Além da fineza da observação e reprodução das complexas relações interpessoais, os dois filmes mostram a relação “primitiva” do homem com a natureza, vivendo dos elementos que a natureza lhes oferece, com suas dificuldades, mas preservando os recursos naturais. A modernidade traz conforto e melhorias, mas “trará luz ao coração dos habitantes?”

Por: Virginia Pignot - Cronista e Psiquiatra.
É Pedopsiquiatra em Toulouse, França.
Se apaixonou por política e pelo jornalismo nos últimos anos. 
Natural de Surubim-PE


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