PERFIL DE UMA VENCEDORA, RENATA DAL BÓ MARQUES

0 Comments
Renata Dal Bó Marques.


Jornalista por formação, a escrita literária veio mais tarde com a maturidade, fruto do desejo de transcender as margens do texto jornalístico, de não precisar se limitar à veracidade dos fatos. Aos 40 anos, começou a escrever crônicas semanais no Jornal Diário do Sul, de Tubarão, cidade onde mora há 31 anos. Escolheu este gênero justamente por se situar na fronteira entre o jornalismo e a literatura. 

Foi por meio da escrita literária que conseguiu, aos poucos, ultrapassar as margens da sua persona. Ao escrever, passou a ter coragem de atravessar a fronteira do pensamento, ousar, falar o que pensa, dar opiniões, contestar, indagar, colocar seu lado de “dentro” para “fora”. Que libertador! Só não imaginava que havia tantas mulheres que, assim como Renata, usavam sua escrita para serem “ouvidas”, para se tornarem visíveis, para existirem. 

A travessia definitiva (e sem volta) para além das margens se deu no dia em que conheceu a Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil (AJEB) e as mulheres que a compõem: as Ajebianas. Naquele momento, viu que não estava só, que havia muitas outras mulheres que também acreditavam no poder transformador da palavra.

Este novo mundo se abriu para Renata no dia 06 de setembro de 2018, durante o 1º Encontro de Ajebianas, que aconteceu na Academia Cearense de Letras, em Fortaleza. Mulheres de todo o país: escritoras, advogadas, psicólogas, professoras, jornalistas, e muitas outras formações, unidas para trocar experiências, compartilhar ideias, mas principalmente, compartilhar sonhos, ideais, prosa e poesia. Mulheres brasileiras, de diferentes idades e gerações, que, por meio de sua escrevivência (Expressão tão bem colocada pela escritora Conceição Evaristo) expressam sua sensibilidade e mergulham no processo de descoberta de si, tecendo narrativas, que retratam suas vivências dentro de diferentes espaços-tempos. 

Voltou para Tubarão com a missão de fundar uma AJEB em Santa Catarina, e assim foi feito. No dia 04 de dezembro de 2018, junto com outras 20 jornalistas e escritoras catarinenses, fundou a AJEB-SC. Renata lembra como se fosse hoje a felicidade que todas sentiram em poder abrir caminhos para um futuro mais atuante da mulher na literatura e no jornalismo catarinense. 

Seu encanto por esta entidade e pelo que ela representa aumenta a cada dia e faz querer ir além. Em primeiro lugar, instigou a conhecer melhor estas mulheres e suas escritas, a pesquisar sobre suas histórias, memórias e o elo afetivo que as une. Esta pesquisa resultou na tese de doutorado que será defendida em julho de 2024.

Para além disso,  motivou a aceitar mais este imenso desafio: o de assumir a presidência da AJEB Nacional, para contribuir na construção da história da escrita de autoria feminina brasileira.    

Por meio das coordenadorias da AJEB realizaram um forte movimento literário feminino em diferentes regiões do país, que funciona como alternativa concreta para escritoras não incorporadas aos sistemas já consolidados e/ou tradicionais. Escreveram em blogs, mídias sociais, coletâneas, publicaram livros. Por mais que participem de manifestações literárias legítimas, por vezes não recebem a atenção que merecem e dificilmente passam a integrar os chamados sistemas literários regionais, estaduais ou até nacionais. Por isso, um dos grandes objetivos da AJEB é trazer à tona obras de escritoras das mais diversas regiões do país, proporcionando-lhes o devido reconhecimento, valorizando seu fazer literário e inscrevendo-as na historiografia literária contemporânea brasileira.

Sabemos que a luta pela visibilidade da mulher nas letras vem de longa data, quando o verbo “escrever” não lhe era permitido. Não que nós não tivéssemos nada a dizer, mas porque não conseguíamos mostrar nossas vozes.

Assumir a atual gestão da AJEB Nacional, foi a forma que encontrou de “gritar” para que todos possam ouvir que por meio da escrita de autoria feminina podemos e devemos construir um mundo mais humano, solidário, poético e igualitário. 



You may also like

Nenhum comentário: