AS ESTRELAS COMO TESTEMUNHAS

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Pr. Geraldo Magela.


Eu a interceptei na principal praça da cidade. Era umas dez horas da noite, de uma quarta-feira fria. Eu estivera esperando esse momento desde as sete da noite, repassando tudo que deveria dizer e imaginando tudo que ela poderia responder. Agora era chegada a hora mais importante de minha vida até então. 

Criei a coragem dos apaixonados e iniciei a conversa:

- Tá vindo de onde? perguntei já sabendo a resposta.

- Do Colégio. 

Ela estava genuinamente surpresa com minha abordagem. Mas, sorriu ao responder, o que me deixou mais à vontade para prosseguir:

- Tá indo para casa? Eu posso te acompanhar, fazer companhia? 

- Pode. Vamos...

Atravessamos a rua, deixando a praça para trás. Um silêncio incômodo se instalou entre nós. Era tudo que eu não queria. O que fazer agora? O que dizer agora?! Sentia que meu coração estava excitado, a mil. Pior que o silêncio era perceber que havia esquecido tudo que tinha ensaiado falar!

Eu não podia perder essa chance de abrir meu coração para a moça que eu amava com toda energia do meu coração, fazia mais de um ano. 

- Bora ser franco? perguntei sem esperar resposta. Vou dizer a verdade, toda a verdade: Não te encontrei na praça por acaso. Eu vi você indo pro colégio e te esperei aqui porque precisava muito falar contigo. Você pode me ouvir, com atenção? 

Ela fez um ar de riso, mas, logo ficou séria. Se ela tivesse sorrido mais eu a teria agarrado e beijado, ali mesmo. Graças a Deus e à timidez, me contive.

- Pode falar...

- Eu gosto demais de você. Eu te amo! Sei que, há um ano, você disse que não queria namorar comigo!

- Eu disse que não queria namorar ninguém...

- Por favor, não me interrompa, senão posso esquecer uma parte de tudo que tenho para te dizer. Por favor... Eu penso em você todo dia, o dia todo. Estou aqui para te fazer uma pergunta e, depois, eu prometo que nunca mais você vai me ver ou vai me ver todos os dias da tua vida. A gente pode parar um pouquinho aqui?

Era uma esquina. Como ela era baixinha, deixei que ficasse na calçada, no meio fio. Eu desci e fiquei no nível da rua. Minhas mãos seguraram em seus braços para que eu a pudesse olhar nos olhos. Seu corpo todo me fascinava. Tocar em sua pele foi como tocar em ouro puro. Os volumes de seus seios quase me emudeceram. “Você precisa se concentrar, você não pode desperdiçar essa oportunidade...” Olhei firmemente nos seus olhos. E, continuei, de vez em quando, volvendo meus olhos para o chão, em busca das palavras mais apropriadas.

- Há um ano eu penso em você. Eu prometo que vou te deixar em paz, se você quiser. Se você responder não ao que eu te perguntar, daqui há pouco, seguirei a minha vida. Mas, eu preciso ouvir de você um sim ou um não. Eu te amo, entendeu? Eu te amo! Quero cuidar de você, amar você para sempre, enxugar suas lágrimas, fazer de você a moça mais feliz que eu puder fazer... 

Ela não disse nada. Só prestava atenção. Só ouvia. Ainda bem. Continuei, já totalmente livre da timidez:

- Se você quiser, posso te dar uma semana pra pensar. Mas, pense sabendo que, agora, é tudo ou nada. Ou você me aceita e eu te ensino a me amar ou diz que não quer e nunca mais eu chego perto de você. Não acredito em amizade de mulher com homem... eu não quero ser seu amigo. Já tenho amigos o suficiente. Eu quero você como minha namorada. 

Olhei para o chão. Respirei fundo. Relembrei da frase e, olhando o seu rosto, perguntei a ela:

- Maria do Carmo, você quer namorar comigo? Se quiser, pode responder semana que vem...

Pronto, falei. Estava exausto. Minhas mãos tremiam levemente. Eu pusera as cartas na mesa. Agora era com ela. Eu a amava com todo amor do mundo. Suspendi a respiração quando vi que ela ia responder. 

- Eu não preciso de oito dias para pensar na tua proposta. Respondo agora. Eu quero sim ser sua namorada...

Aquelas palavras abriram os portais da felicidade para mim. Deu vontade de pular, de gritar, de extravasar toda alegria que explodia no meu coração. Ela gostava de mim também! Ela não precisou pensar, ela já sabia! Virei menino de novo, de tanto prazer que senti. Mas, me controlei. Afinal, agora eu era o namorado dela e não queria que ela pensasse que eu era um meninão. 

Como não tinha mais nada para dizer nem precisava ouvir mais nada, eu procurei a sua boca e a beijei pela primeira vez, segurando seu rosto com minhas mãos. Ela segurou levemente minha cintura com suas duas mãos de seda. 

O primeiro beijo que demos, creio, só Deus viu. Foi numa noite escura e fria. A melhor noite de minha vida.

Por: Pr. Geraldo Magela.


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