ADILSON GOMES 80 ANOS - QUANDO A MINHA TRAJETÓRIA CRUZOU COM UM SER HUMANO QUE É EXEMPLO E INSPIRA

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Diz o manual acadêmico sobre testemunhais que o depoente deve elogiar o homenageado sem se incluir na história. Vou pedir perdão e me meter logo no primeiro parágrafo. Conhecemos Adilson Gomes, Leonardo Cavalcanti (em memória) e eu numa bela noite do difícil ano de 1973. A luta contra a ditadura estava acirrada, eram muitos os perigos desta vida. Criamos, Dionary Sarmento, Leonardo e eu, com apoio e participação de muitos colegas, na Faculdade de Direito, o Jornal Reflexo.  De linha moderada, desafiava a censura. Não era clandestino porque nossos nomes estavam lá, os artigos eram assinados. Mas era um desafio e a ditadura não costumava perdoar.  Uma das dificuldades do Reflexo era onde imprimir. Mesmo que conseguíssemos dinheiro, nenhuma gráfica imprimia nada sem o visto da censura. Recorríamos a mimeógrafos, difíceis de operar. Um contato com o deputado estadual Jarbas Vasconcelos nos encaminhou:  “Vamos imprimir no MDB”. Cabra raçudo esse Jarbas. 

Então

Perto da meia noite, para não chamar atenção, batemos na porta da sede do MDB, na avenida Conde da Boa Vista. A porta abriu e vimos Adilson pela primeira vez. Escudeiro de Jarbas, realizava tarefas grandiosas e modestas, desde que inseridas na linha democrática.

Adilson

Tinha 19 anos quando aconteceu o Golpe de 1964. A luta pela reconquista da liberdade o convocava. Participou da fundação do MDB, o partido de oposição consentida à ditadura. Arregaçou as mangas. Não enjeitava tarefas, como se depreende dessa narrativa. De processos eleitorais à impressão de jornais semiclandestinos, tudo era válido nas circunstâncias. De passo em passo, ajudou a transformar o MDB numa ferramenta efetiva de luta contra o autoritarismo. Desde 1964 a flor da liberdade germina no coração de Adilson. 

Vida afora

Adilson esteve presente em todos os momentos decisivos da luta pela liberdade. Quando Arraes voltou, ele estava lá. Manteve com a retomada das eleições livres o mesmo ardor que exalava, usando as eleições consentidas da ditadura para conspirar contra elas. Com o retorno da liberdade, outra flor ocupou o seu coração: a da justiça social. E a ela passou a dedicar, com impressionantes aplicação e coerência, o melhor das suas energias.

Biografia

O Jornal O Poder publicou, ontem, dia dos 80 anos de Adilson, uma linha biográfica emocionante. Poucos brasileiros resistentes dos anos de chumbo podem ostentar tantos feitos, tantas conquistas, tamanhas contribuições à sociedade. Uma pausa para respirar.

E nós?

Seguimos nossas trajetórias. Com lágrimas, suor, sangue, empenho. Nos reencontramos muitas vezes, convivemos muito menos do que eu gostaria. Mas a admiração e o respeito só fizeram crescer ao longo do tempo.

Voando alto

Certa vez, encontrei Adilson durante um voo, rumo ao Norte. Íamos cumprir missões assemelhadas: eu, tratando do marketing político. Ele, enviado por Arraes para tratar da linha política de uma campanha do PSB. Pensei na ocasião, expresso agora. Engraçada essa vida. A gente se separa, se distancia, mas continua indo na mesma direção.

Respeito

Se o caso fosse de religião, Adilson seria um santo da Democracia. Se fosse de reconhecimento, bem merecido ganharia o título de herói da liberdade, da democracia e da justiça social. Mas se trata, apenas, da comemoração dos 80 anos de um lutador incansável - para não ir longe, foi um dos artífices da inesperada vitória no dia 06 passado de Diego Cabral, em Camaragibe. Eu disse apenas? Poucos, muito poucos, alcançam isso. Como se sabe, só os extraordinários, como Adilson, lutam a vida inteira.

Um abraço

Hoje, quinta-feira 17/10/2024 os amigos vão à noite abraçar Adilson pelos seus 80 anos. Em um restaurante, em Aldeia.  Quase 52 anos depois daquela noite, pretendo estar lá. Cheio de admiração e orgulho.

Afinal, receber o abraço de ser tão extraordinário é um privilégio de poucos.







Por: José Nivaldo Junior - Estrategista político. 

Da Academia Pernambucana de Letras. Diretor de O Poder.



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