O MODERNISMO, OS MODERNISTAS E O CORDEL

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Ronnaldo de Andrade.


A Semana de Arte Moderna foi organizada pelos próprios participantes, que vinham sendo influenciados pelas vanguardas europeias. Sendo que a maioria deles não era modernistas. Eles defendiam a liberdade criativa, a experimentação e uma linguagem nacional e coloquial, sem o formalismo acadêmico. (Tudo que nós já tínhamos). O que nos surpreende é que nenhum desses participantes convidou um cordelista ou mencionou o cordel como base dessa linguagem nacional. O cordel possuía já à época, exatamente, as características que os modernistas brasileiros buscavam para renovar nossa poesia.

Os organizadores dessa linguagem “moderna”, buscavam influências fora da terra do cordelista Leandro Gomes de Barros e do poeta Olavo Bilac, dois grandes poetas e príncipes de nossa literatura. O paraibano Leandro era o príncipe dos poetas populares, enquanto o carioca Bilac era reconhecido como um dos poetas brasileiros clássicos.

É falacioso dizer que a escola parnasiana foi alvo de ataques e ironias na Semana de Arte Moderna de 1922, realizada no Theatro Municipal de São Paulo, e atribuir isso ao poema “Os Sapos”, publicado em 1919, no livro “Carnaval”, do conterrâneo Manuel Bandeira. De acordo com o poeta e crítico literário Antonio Carlos Secchin, em artigo especial para o periódico O Globo, intitulado “A Academia e o Modernismo: 22 e depois”, “trata-se de um equívoco, em dose tripla: 1) o poema não é modernista; 2) tampouco é crítica ao parnasianismo; 3) durante décadas sua suposta importância na Semana foi inteiramente desconhecida.” Secchin observa ainda que “Os Sapos” segue a estrutura poética convencional de regularidade métrica, rímica e estrofação, distanciando-o da modernidade. Segundo Manuel Bandeira, “Os Sapos” não era um ataque ao parnasianismo, mas sim aos seus epígonos diluidores, satirizados na figura de um sapo subpoeta identificado como “parnasiano agudo”.

O Modernismo realmente não foi um festival de literatura, como muitas pessoas pensam, mas de música, com a literatura ocupando uma pequena parte do tempo e espaço da Semana. A maior por centragem foi reservada a falas sobre pintura, escultura e, especialmente, música. E nada da poesia popular! Nada daquela poesia e linguagem que o povo já vinha desenvolvendo e falando à margem das Academias. Nenhuma menção aos nossos poetas populares. Leandro, um dos precursores do cordel, foi deixado de lado. Não quero acreditar que isso aconteceu por desconhecerem existência ou ao menos um folheto de sua autoria. Sua poesia tem uma estética popular, cheia de marcas de oralidade, dialogando diretamente com o povo simples da roça, dos campos e do sertão, refletindo os sentimentos dessa gente e com a ideologia dos modernistas em relação à linguagem da nova poesia brasileira. Ou será que foi por que o poeta cordelista não fazia parte da elite vanguardista? Ou por que o cordel tem como característica o uso da métrica regular, censurada, até certo ponto, pelos modernistas?  

Ainda hoje continuamos valorizando o que vem de fora, mesmo que tenha saído do Brasil e voltado para cá como importado. Já se passou da hora de valorizamos nossas criações e nosso cultura!

Por que os organizadores da Semana de Arte Moderna ignoraram o cordel e os cordelistas? Fica aqui essa incógnita.

Por: Ronnaldo de Andrade - Poeta e Professor, tem quatro livros publicados 
e organizou quatro antologias de poemas SPINAS.


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