DOS SABORES DE SURUBIM AOS HOLOFOTES DO MASTERCHEF: A JORNADA SUPERAÇÃO DE JEFFERSON

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Natural de Surubim, no agreste de Pernambuco, José Jefferson da Silva Gomes encantou o Brasil com sua autenticidade e talento ao participar do MasterChef. Aos 34 anos, ele mostrou que a culinária vai além de pratos bem-feitos – é uma extensão da própria história, das raízes e dos sonhos. Sua jornada até o programa é marcada por persistência, determinação e muito amor pela gastronomia.  

Participar do MasterChef sempre foi um sonho para Jefferson, mas o caminho até lá foi desafiador. Após duas tentativas frustradas em edições anteriores, ele decidiu tentar novamente, desta vez sem grandes expectativas. “Fiz a inscrição quase sem fé, mas como bom nordestino, não desisti. E aí veio a surpresa: fui chamado!”, conta, emocionado. O convite para integrar o programa foi a oportunidade de mostrar ao Brasil a essência da culinária nordestina que o inspira desde criança.  

Dentro da competição, Jefferson enfrentou desafios intensos, tanto técnicos quanto emocionais. Para ele, o maior obstáculo foi lidar com a pressão e o isolamento. “Estar longe de casa e das pessoas que amo foi muito difícil. É um teste não só para o corpo, mas principalmente para a mente”, confessa. Ainda assim, ele encontrou força em suas raízes, especialmente em uma das provas mais marcantes, na qual preparou um arrumadinho, prato tradicional do Nordeste, que impressionou os jurados. O elogio da chef Helena Rizzo ao sabor e à autenticidade do prato foi um divisor de águas. “Ali eu percebi que estava no caminho certo, que a minha cozinha tem valor.”  

A culinária sempre fez parte da vida de Jefferson. Crescido em uma família apaixonada por comida, ele aprendeu cedo a apreciar os sabores regionais. O bolinho de fava com torresmo, o feijão e o jerimum são memórias que o acompanham até hoje. Mas Jefferson também gosta de explorar novas possibilidades, unindo o regional ao internacional. Ele é fã da culinária indiana e do Oriente Médio, que, segundo ele, têm muito em comum com a nordestina em termos de criatividade e ousadia nas combinações de ingredientes.  

Apesar da visibilidade conquistada com o programa, Jefferson mantém os pés no chão. Para ele, mais importante do que a fama é a consistência no trabalho. Ele planeja abrir um restaurante intimista, onde poderá explorar sua identidade culinária e oferecer pratos feitos com dedicação e amor. “Quero um lugar aconchegante, onde as pessoas possam sentir a essência do que eu acredito que a comida deve ser.” No entanto, ele não tem pressa. “Tudo tem seu tempo, e quero que aconteça no momento certo.”  

Jefferson também carrega a responsabilidade de representar Surubim e o Nordeste com orgulho. Ele acredita que a culinária nordestina, quando bem-feita, tem o poder de conquistar o Brasil e o mundo. Sua mensagem para os jovens do interior que sonham em alcançar voos maiores é simples, mas poderosa: “Acredite nos seus sonhos, porque o sol brilha para todos.”  

Mais do que um chef talentoso, Jefferson é um contador de histórias que traduz suas experiências e memórias em cada prato. Ele vê a cozinha como um espaço de criação, emoção e conexão. “Cozinhar é mais do que técnica. É sobre amor, cuidado e respeito aos ingredientes e às pessoas.”  

A jornada de Jefferson no MasterChef foi um capítulo importante de uma história que está longe de acabar. Com talento, carisma e determinação, ele segue mostrando que a cozinha é um lugar de sonhos, onde raízes e inovação se encontram para criar algo único e especial.  

ENTREVIISTA COM JOSÉ JEFFERSON DA SILVA GOMES

BLOG MALUMA MARQUES - Como foi o processo de seleção para entrar no Masterchef?  

Jefferson Gomes -  Foi um processo longo, me inscrevi duas outras vezes e fui pré-selecionado para etapa em São Paulo, infelizmente das outras duas vezes eu não consegui. A inscrição desse ano foi sem muita fé que realmente rolaria. Só que sou brasileiro, né! E brasileiro não desiste nunca hahahha. Então veio essa surpresa de conseguir.

BMM - Quais foram os maiores desafios que você enfrentou durante a competição?

Jefferson Gomes - O maior desafio pra mim sempre foi o psicológico. É você contra você mesmo. Ficar longe de casa pesa muito, pois gosto de estar perto das pessoas que gosto. E isso me quebrou ao meio!  

BMM -Existe algum prato ou prova que você considera a mais marcante? por quê?

Jefferson Gomes - A prova mais marcante sem dúvida foi cozinhar o feijão. Eu lembrei de quem eu sou, de onde vim e até onde quero chegar. Levar um arrumadinho pra uma seletiva e conseguir agradar uma das maiores chef do mundo, foi sem dúvida um divisor de águas, pois ali eu sabia que meu talento pra cozinhar realmente existia!  

BMM - Como você lida com a pressão de cozinhar sob os olhos dos jurados e das câmeras? 

Jefferson Gomes - É muito tenso! Você está o tempo todo sendo julgado pelos jurados e filmados pelas câmeras. Aí é pagar de doido e fingir que não tem tudo isso acontecendo e só seguir o fluxo!

BMM - Houve alguma crítica ou elogio dos jurados que ficou marcado para você? 

Jefferson Gomes -  Todas as críticas foram construtivas para melhorar. Já sobre elogios a chef Helenna Rizzo dizer que minha comida (arrumadinho) estava muito saborosa, me fez acreditar ainda mais que estou no caminho certo, trazendo novas possibilidades para os pratos do nosso Nordeste. E na minha eliminação chef Helenna dizer que eu sei cozinhar e falar: “continue por favor (a cozinhar)” só confirmou o que meu coração a algum tempo vem dizendo!   

BMM - Como a culinária de Surubim ou de Pernambuco influenciou seu estilo de cozinhar?  

Jefferson Gomes - A culinária de Surubim, assim como a de Pernambuco é a nordestina. Não temos nenhum prato exclusivo de Surubim. Eu cresci comendo bolinho de fava com torresmo, então já está no sangue o gosto pela comida da nossa região. O que me influencia muito são os ingredientes que estão no nosso dia a dia e o respeito a eles. 

BMM - Quais ingredientes regionais você mais gosta de usar nos seus pratos? 

Jefferson Gomes - Gosto de todos, porém não pra tudo! Manteiga de garrafa e a carne de charque são os meus xodós, o jerimum e os vários tipos de feijão trazem um leque enorme de possibilidades, sem falar nas frutas como: cajú e acerola que fazem toda a diferença se bem pensadas na hora de colocar em um prato.  

BMM- Existe alguma receita típica de Surubim que você gostaria de apresentar ao Brasil?

Jefferson Gomes - Surubim não tem um prato específico, a sua cozinha é a nordestina! Qualquer prato nordestino e bem-feito pode ser apresentado pra o Brasil, assim como foi o arrumadinho!

BMM - Quem mais te inspirou a entrar na cozinha? Família, chefs ou experiências pessoais?

Jefferson Gomes -  Acredito que o talento está no meu sangue. Minha mãe e minha tia são excelentes cozinheiras, a comida mais gostosa do mundo, pra mim, são as delas. Meu avô era padeiro e sempre cozinhou em casa. Desde pequeno esse universo da cozinha sempre me cercou, nunca vi como possibilidade de profissão até realmente entender e ver que cozinhar não era só aquilo que meus parentes faziam. O que de fato me inspirou foi a curiosidade de “saber que gosto tem”, sempre assisti filmes e programa e me perguntava: Que gosto tem um roux? E uma massa sablê? O que é reação de maillard? Que gosto tem alho poró? E fui em busca de aprender pra experimentar e a partir daí minha mente se expandiu e passei a ver a cozinha como o laboratório de química e física que sempre odiava quando estudava. Sobre chefes, tem muitos que me inspiram, tem a Hellena Rizo, Samir Nosrat, Paola Corassela, Yottan Ottolenghi, Madame Saiko, Marilia Zylber, Thiago das chagas e muitos outros que trazem suas histórias e mostram as diferentes possibilidades de trabalhar com o mesmo ingrediente.

BMM - Como sua vida mudou após participar do programa? Surgiram novas oportunidades?

Jefferson Gomes - Sem muitas mudanças significativas (no meu ponto de vista) ganhar muitos seguidores não quer dizer que as pessoas gostam do seu trabalho, que dizer que são curiosas e querem saber o que você está fazendo. Algumas propostas surgiram, entretanto, tenho outros planos. Sempre fui muito pé no chão, ser reconhecido nacionalmente por você saber fazer algo bem, é muito legal, só que não passa disso. Cabe a você realmente saber o que quer, pois uma coisa que eu tenho certeza é que esse holofote todo é passageiro e a única certeza que eu tenho sobre ele é que quando passar, eu ainda continuarei sabendo cozinhar.   

BMM - Você pretende abrir algum restaurante ou lançar algum projeto gastronômico? 

Jefferson Gomes - Sim, pretendo abrir um lugar intimista, aconchegante e com comida gostosa. Cozinhar do jeito que acredito que a comida de um restaurante deve ser preparada e com as influencias culinárias que tenho. quando? Só tempo sabe. Sou professor e os planejamentos de aula me fizeram observar um negócio alimentício por outro lado, é muito mais complexo do que dar aula. Tudo tem seu tempo, e quando for a hora vai acontecer, pois desde pequeno sempre ouvi: Não adianta colocar a carroça na frente dos bois.  

BMM - O que você diria para outras pessoas de surubim ou do interior que sonham em entrar no Masterchef?  

Jefferson Gomes -  Acredite, o sol brilha pra todos!

BMM -Qual é o prato que mais representa sua história pessoal?  

Jefferson Gomes - São vários, definir em um só é me limitar a um espaço-tempo muito curto. Tem alguns que foram divisores de água pra mim, que quando eu fiz eu pensei, caramba que negócio bom! Massa fresca, choux, crumble, chapatti, curry, dumplings, cada um desses tem um lugar especial e me representa em momentos diferentes.

BMM - Existe alguma cozinha internacional que você tem vontade de explorar mais?  

Jefferson Gomes - Sou apaixonado pela culinária indiana e do oriente médio. A indiana tem perfumes indescritíveis nos pratos, e uma complexidade de sabor estonteante. Só que quem ganhou meu amor todinho foi a culinária do oriente médio. Para o meu cérebro ela é muito parecida com a nordestina e tem comibanações de ingredientes que você acredita ser muito estranha, só que no final é surpreendente. Um exemplo é macarrão com cogumelos apimentados e iogurte grego! Estranho e maravilhosamente delicioso.

BMM - Como você define sua identidade culinária em uma frase?  

Jefferson Gomes - “Eu sou um cozinheiro solar!”   

BMM - Para finalizar fale um pouco sobre você, sua história, quem é Jefferson.

Jefferson Gomes - Meu nome é Jefferson, Gel para os mais próximos. Com 34 anos já vivi muitas coisas. Sou natural de Surubim, e do signo de peixes. Tive uma infância feliz, férias no sítio da minha vó, acordando com as galinhas, tomando banho de caçimba e chupando fruta direto do pé. Coisa rara de se ver atualmente.

Sempre fui do meio cultural, quando pequeno participava das quadrilhas juninas promovidas por Zan. Fui crescendo e sempre me destaquei em tudo que fiz. Conclui o Ensino Fundamental na escola Ana Faustina que foi a minha base, onde aprendi a ler e escrever. Concluí o Ensino Médio no Colégio do Amparo, onde ingressei no grupo de dança Stella Duce e desenvolvi ainda mais as habilidades artísticas. 

Cursei Técnico em Moda na ETE, porém não era o que eu queria, então cursei história na Univisa. Lecionei por alguns anos em sala de aula e retornei aos trabalhos artísticos. Sempre fui muito curioso e a minha curiosidade foi um dos fatores mais importantes para cursar história, sempre gostei de saber a causa, o motivo e a circunstância das coisas e isso me levou a adentrar aos poucos na cozinha. Nunca gostei de química e física, mas na cozinha elas se apresentaram de forma divertida e prática e isso encheu meus olhos.

E vários livros comprados, alguns cursos feitos e muita leitura e teste com acertos e erros na cozinha, alguns anos depois cheguei aonde estou. 

Tenho duas frases que sempre lembro quando vou cozinhar, são elas: “Cozinhar é arte, comer faz parte.” Quantas vezes já pagamos caro por comida ruim?! Cozinhar todo mundo consegue, agora fazer do cozinhar uma arte é para quem realmente quer.

“Amor se faz na cozinha.”  É o título de um livro de Marcia Frazão. Cozinhar é um ato de amor ou de morte, Branca de Neve é enfeitiçada com uma maçã, toda festa tem comida, se alguém tem alergia a algum ingrediente, pode ser fatal, quantas vezes um bolo feito com raiva já deu errado? É sobre isso, cozinhar é amar, é cuidar, e observar, é manter a vida.  

Independentemente de qualquer coisa o que realmente temos que saber sobre nós mesmos é que “Somos do tamanho dos nossos sonhos”. 










Por: Maluma Marques.



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