SENTIMENTOS E EMOÇÕES

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Poesias e textos testemunham sentimentos e emoções. Não são caprichos nem narcisismo ou holofotes. São a interpretação de sensações subjetivas de dor ou felicidade na realidade de cada um. O sentimento traz a necessidade de criar, escrever, inventar, é transcendente. Transforma botão em flor, tinge o mar e o céu, é sensível ao gorjeio dos pássaros e o voo das borboletas. Não se explica essa força, reconhece-se. A pedra no caminho deve ser retirada, se houver. O poema diz tudo, sem segredo. A emoção se transforma em sentimento, é o coração sobre a razão, determina impulsos às ações. 

Resolvi fazer uma autoanálise de meus sentimentos e emoções por uma semana. Meu quintal de lembranças mostrou-se enorme. Tive flashes de memória com pessoas e momentos bons e ruins, em gráfico sobe-desce de sentimentos, confortei-me me a mim mesma. Muitos estão apenas na memória. A orfandade à flor da pele indica a minha solidão. Há gratidão no sorriso e olhar carinhoso e momentos inesquecíveis que recebi. As folhas do livro de minha vida não perderam a cor. meu passado é o meu presente.

Eu me perguntei: “O que me leva à alegria?”  Fiquei alegre em descobrir um restaurante havaiano que serve apenas saladas. Depois, ao saber que na esquina de casa servem café da manhã, bem perto de uma excelente padaria. Lembrei de Manaus, quando ia tomar café com os produtos da terra. Pensei: “Será que servem cuscuz e bolo de tapioca?” Não, mas tinha bolo de milho e de fubá. Em outro momento, fui comer tapioca e escolhi o recheio de carne seca e tomei caldo de cana. “Será que meu saudosismo é apenas oral?” Cada sabor é uma história.  Até pouco tempo não gostava de maçã. Em criança, maçãs eram destinadas a quem podia comprar.  Eu ficava doente, papai me trazia uma maçã. Interpretei a fruta com a doença, nunca com um mimo de amor. Fiquei feliz ao sair de sandália japonesa, à toa, roupa comum e simples. Dizem que na “melhor idade” se assume como se é, sem padrão, descompromissada, sem necessidade de agradar. 

Amigos nos completam. Tenho amigas que me chamam para ir ao karaokê, ir ao cinema, treinar na academia, tomar um café à tarde. Cada amiga é diferente da outra, como os dedos. Tenho amiga que só fala problemas, algumas falam demais, outras escutam, ou choram com facilidade, umas só dizem não, sem se arriscar.  

No espelho, vejo rugas. Rosto e corpo mudados são cheios de passado. Na ditadura das horas, fiz tese no mestrado de meus desacertos. Minha memória vem da época que tinha estrelas nos olhos, mas sapato velho aquece os pés. Não desisti de viver e só envelhece quem está vivo. Sobrevivi. Aprendi a contar comigo mesma. Minha Casa é meu destino. A austeridade familiar na infância construiu-me pensamentos conscientes e inconscientes em vozes não dissipadas que me ajudaram a me tornar o que sou.

Melancolia? Que nada! No ap ao lado o vizinho gritava com o jogo do Palmeiras. Lá embaixo, uma Feira orgânica. São Paulo é assim. Muitos universos em ebulição. Se procurar acha, porque a vida são as quatro estações do ano. Sou um ponto micro em um espaço sideral na Via Láctea. Que importam minhas questões existenciais? Viver é escolha. Não viver o momento é não viver. Envelhecer não é para fracos, cada passo é a certeza que não precisa correr, a beleza está dentro de mim.  O que não fiz não doeu, adiei.

Por: Arlinda Lamêgo - Recifense, Médica, Escritora e Poeta.


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