DOHA: UM OÁSIS DE LUXO, TRADIÇÃO E AMBIÇÃO FUTURISTA NO CORAÇÃO DO DESERTO

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Depois de 11 horas de voo saindo do Japão até Doha, e mais 14 horas de Doha até o Brasil, fiz uma escala que acabou se tornando muito mais do que uma simples conexão: uma verdadeira imersão em um dos destinos mais surpreendentes do Oriente Médio. Doha, capital do Catar, é uma cidade que impressiona logo nos primeiros minutos. Moderna, limpa, organizada e ao mesmo tempo profundamente ligada às suas raízes culturais e religiosas, é o tipo de lugar que transforma uma viagem em experiência.

O aeroporto internacional Hamad é um espetáculo por si só. Classificado como um dos poucos aeroportos cinco estrelas do mundo, oferece um nível de conforto e eficiência que rivaliza com o dos melhores hotéis. As poltronas são todas de couro, há áreas de descanso separadas por gênero onde o silêncio é absoluto nada de celulares ou conversas. Tudo ali é pensado para acolher com respeito às tradições locais, mas com uma infraestrutura de padrão global.

O Catar é um pequeno país na Península Arábica, banhado pelo Golfo Pérsico. Até 1971 era um protetorado britânico, mas desde a independência se transformou em uma potência graças às suas imensas reservas de petróleo e gás natural  as terceiras maiores do planeta. Com uma população estimada em cerca de 1 milhão de habitantes, apenas 250 mil são nativos. O restante é composto por estrangeiros que vivem e trabalham no país, vindos de lugares como Índia, Nepal, Filipinas, Egito, Austrália e Nova Zelândia, além de uma minoria ocidental. É um verdadeiro caldeirão multicultural em pleno deserto.

A religião predominante é o islamismo sunita, presente em todos os aspectos do cotidiano. As orações são chamadas pelas mesquitas cinco vezes ao dia e o vestuário segue normas conservadoras. Homens devem evitar o uso de bermudas em locais públicos como mesquitas, museus, hotéis e shoppings mais tradicionais, como o Al Hazm. Para as mulheres, roupas discretas e que cubram os ombros são recomendadas. Embora o árabe seja a língua oficial, o inglês é amplamente falado, especialmente no comércio e no turismo, o que facilita bastante a comunicação com visitantes de outros países.

Desde 1995, o país é governado pela família Al Thani. Naquele ano, o xeque Hamad Bin Khalifa Al Thani depôs seu pai em um golpe de estado e assumiu o trono, dando início a uma era de transformação econômica e diplomática. Seu filho, o atual emir Tamim Bin Hamad Al Thani, deu continuidade a essa política de modernização com foco em investimentos estratégicos, cultura e esportes. Foi sob essa liderança que Doha se tornou sede da Copa do Mundo de 2022, um marco que colocou o Catar no centro do mapa global.

Mas o projeto de projeção internacional do país vai muito além do futebol. Em maio de 2025, o governo anunciou a compra de 160 jatos da Boeing, nos Estados Unidos, naquela que é considerada a maior transação da história da aviação mundial. Um investimento bilionário que mostra o poder de influência e ambição do pequeno emirado.

Mesmo sendo uma nação desértica, o padrão de vida é altíssimo. Praticamente todos os produtos são importados, o que garante supermercados bem abastecidos e restaurantes que oferecem sabores de todas as partes do mundo. A segurança é outro destaque. É um dos países mais pacíficos do Oriente Médio, com baixíssimos índices de criminalidade e forte presença de normas sociais.

Durante minha breve passagem por Doha, tive a chance de visitar lugares que revelam diferentes faces da cidade. Um deles é o Museu de Arte Islâmica, construído em uma ilha artificial. O prédio, projetado pelo arquiteto I.M. Pei, é uma obra de arte por si só e abriga uma vasta coleção de manuscritos, cerâmicas, tecidos e artefatos religiosos vindos de diversos países muçulmanos. Outro ponto marcante foi o Souq Waqif, um mercado tradicional onde se vendem especiarias, roupas típicas, artesanato, objetos antigos e até animais um lugar que exala cultura e história a cada esquina.

A cidade também possui centros culturais modernos, como a Katara Cultural Village, além de bairros luxuosos como The Pearl, uma ilha artificial com residências milionárias, marinas e lojas de grife. São contrastes que convivem lado a lado: o tradicional e o contemporâneo, o religioso e o cosmopolita, o deserto e o luxo.

Depois de viajar por 78 países e atravessar todos os mares, percebo que o mundo está passando por transformações profundas. O islamismo, com sua força crescente e presença marcante em vários continentes, caminha para se tornar a religião mais influente do planeta. Ao mesmo tempo, a China consolida sua liderança industrial e tecnológica, remodelando a economia global. Nesse cenário, Doha representa uma síntese do futuro: um lugar onde tradição, riqueza, poder e estratégia caminham juntos em direção a uma nova ordem mundial.

Sou imensamente grato a Deus que é o Grande Arquiteto do Universo e que a nosso favor tudo arquiteta por me permitir viver tantas maravilhas.







Por: Marcos Eugênio Welter: Vice-Presidente Nacional da Academia de Letras do Brasil, 

Membro do Conselho Superior Internacional da 

Academia de Letras do Brasil.



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