APOCALIPSE E RECONSTRUÇÃO

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DRª Virginia Pignot.


Apocalipse nos Trópicos, o documentário

Petra Costa, cineasta brasileira, teve um documentário seu Democracia em Vertigem, indicado para o Oscar, sobre o período e a crise politica que levaram ao afastamento de Dilma e à prisão de Lula. Agora, ela volta às telas com um documentário que acompanha a influência de lideres religiosos, de pastores protestantes, na escolha de candidatos a cargos importantes, como a presidência da República, ministro do STF, parlamentares. A cineasta aprofundou a pesquisa do que levou cristãos convertidos ao protestantismo, a recusarem o resultado das últimas eleições argumentando: “Está tudo errado, as eleições foram fraudadas, o STF é cúmplice, vamos destruir tudo, para recomeçar tudo de novo”. Deixaram realmente em frangalhos a Praça dos Três Poderes, e ao novo governo o trabalho de reconstrução.

O livro do Apocalipse

No livro do apocalipse o diabo, símbolo da natureza humana que se corrompe e pratica o mal, age como um falso profeta, doutrinando as pessoas e recrutando fiéis para o seu campo. Ele provoca a ira do Senhor, que envia anjos guerreiros fazer uma espécie de guerra santa destruidora, para vencer o diabo, para que das cinzas renasça uma sociedade purificada do mal.

A batalha 

O livro do Apocalipse é usado como referência pelos evangélicos mais radicais que apoiam ou apoiaram Trump e Bolsonaro defendendo a dissolução das instituições democráticas, e a instalação de “um governo de Deus”, disse o deputado Cabo Daciolo. Mas se for para ser governado pelos fundamentalistas religiosos como no Iran e Afeganistão, não dá vontade. 

O documentário Apocalipse nos Trópicos acompanha um pedaço dos bastidores e da grande cena politica brasileira. A Lava Jato e seus delatores que só saiam da prisão se delatassem Lula e seus próximos criou a cena perfeita para a diabolização da esquerda. O deputado antes considerado do baixo clero Bolsonaro, foi batizado em culto protestante usando seu segundo nome, Messias, e ascendeu ao poder, com o apoio massivo de igrejas protestantes, e mais especialmente do pastor Silas Malafaia, chegando a ter 70% de votos desta parcela da população. Esta “batalha” foi ganha, mas com a atuação desrespeitosa do presidente com as vítimas do COVID, o aumento do desemprego, a volta do Brasil ao Mapa da Fome, o “messias” não conquistou eleitores suficientes para se reeleger.  

Estado laico ou teocracia

Entrevistada no Metropolis, e no Falando de Nada Petra Costa explica que começou a filmar em 2020, até 2024. Filmou no Congresso porque queria entender a influência da religião na politica, que vem acelerando muito no Brasil. Ela ganhou então uma bíblia do Cabo Daciolo. O deputado lhe falou para aceitar Jesus, e que Deus colocaria um governo divino. Ela ficou impressionada com esta contradição de ter uma experiência de evangelização e de defesa da teocracia no centro da democracia brasileira, de um estado laico. 

Apocalipse, negacionismo, heroísmo das comunidades na luta pela vida

Petra Costa encontrou, nas suas pesquisas e filmagens, evangélicos fundamentalistas que acreditam que criar o caos, o ‘fim do mundo’, vai acelerar a volta de Jesus. Nesta visão ou crença, seria um Jesus general, bélico que viria à Terra, e não aquele misericordioso, que oferece a outra face.

A cineasta filmou a sensação de apocalipse, e também a presença evangélica maciça permitindo a chegada de ambulância, de cuidados sanitários para as pessoas durante a pandemia em Paraisópolis, onde eles filmaram muito. Viram também pastores negacionistas, que falavam para as pessoas não usar máscaras, dizendo que Jesus curava COVID.

Pontos em comum com o outro lado

No contato que teve com as comunidades evangélicas, Petra Costa achou uma compreensão dos pontos de divergência que tornaram este país tão polarizado: “a câmera ajuda a escutar, diminui a distância, a gente descobre pontos em comum com o outro lado,” diz ela.

O excesso de politização da religião foi uma das razoes evocadas pelas pessoas que se afastaram da igreja. Pastores apreciados dos fiéis foram banidos porque tinham declarado o voto em Lula. Esta é uma das razoes que justifica a separação da igreja e do estado: impedir a perseguição de pessoas em função de sua crença ou ideologia.

Por: DRª Virginia Pignot - Cronista e Psiquiatra.
É Pedopsiquiatra em Toulouse, França.
Se apaixonou por política e pelo jornalismo nos últimos anos. 
Natural de Surubim-PE


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