O SOM DA CIRANDA SE CALA: PERNAMBUCO SE DESPEDE DE NOÉ DA CIRANDA, SÍMBOLO DA CULTURA POPULAR NORDESTINA

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O som da ciranda silenciou na noite desta terça-feira (30). Faleceu, no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), em Recife, o cirandeiro Noé Souto Maior Barbosa, conhecido e querido em todo o estado como Noé da Ciranda. Natural de Surubim, ele tinha 72 anos e lutava contra um câncer de estômago, descoberto recentemente.

Figura marcante da cultura popular pernambucana, Noé dedicou quase quatro décadas à preservação e difusão da ciranda, ritmo que embalou sua vida e inspirou gerações. Foram 39 anos de entrega à arte, levando alegria, poesia e resistência às praças, praias e palcos onde se apresentou.

Aos 33 anos, deu início à sua trajetória artística, profundamente influenciado por mestres como Baracho de Abreu e Lima e João da Guabiraba, referências que moldaram seu estilo e sua forma única de improvisar versos. Em 1986, criou um grupo instrumental que se tornaria o alicerce das apresentações que encantaram o público em eventos culturais, festivais e celebrações populares.

Com talento, carisma e autenticidade, Noé lançou nove CDs, reunindo 117 músicas que exaltam o ritmo contagiante e a poesia da ciranda, sempre marcada pelo amor à terra e pelas raízes do povo. Seu trabalho com a Ciranda Rosa Branca levou o nome de Surubim para além das fronteiras de Pernambuco, consolidando sua importância no cenário cultural nordestino.

Em 2024, a trajetória do artista ganhou registro audiovisual no documentário dirigido pelo cineasta surubinense João Marcelo. A produção homenageia o homem por trás da música, o agricultor, o pedreiro, o artista popular que transformou simplicidade em arte e fez da ciranda uma bandeira de identidade e resistência. O filme apresenta não apenas o cirandeiro, mas o ser humano que acreditava no poder transformador da cultura e na necessidade de reconhecer a ciranda como patrimônio imaterial do povo pernambucano.

O velório de Noé acontece em sua residência, localizada na Rua Oscar Cavalcanti Porto, nº 372, na comunidade do Diogo (ao lado do Bar de Marrom). O sepultamento será realizado às 17h desta quarta-feira (1º), no Cemitério São José, em Surubim.

Com sua partida, Pernambuco se despede de um mestre da tradição, mas sua voz, seus versos e sua ciranda permanecerão vivos na memória e no coração de todos aqueles que já giraram ao som do seu canto.




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