BILHETE

0 Comments
Maria Luíza Saraiva de Morais (Luíza Saraiva), professora, escritora e missionária, graduada pela Faculdade de Filosofia de Recife – FAFIRE – e pós graduada em pedagogia pela Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, tendo como foco principal a poesia, tem um projeto de alfabetizar com a poesia rimada, o qual foi selecionado por vários anos pela SBPC – Sociedade Brasileira do Progresso para Ciência, assim, apresentado em vários congressos das universidades do Brasil.


Distâncias não se contam para quem tem metas e ideais, para quem tem sonhos. Estas, são palavras minhas que gostaria de definir como gratidão a DEUS que me trouxe a essa terra com uma finalidade maior: O AMOR. Obrigada, sim, ao Mestre da vida, por ter me colocado no berço de Surubim, nas serras de pedras, onde as águas dos riachos são salgadas, o sol serve de termômetro do tempo, e as borboletas brincam que nem crianças em busca do cheiro das papoulas, e do colorido das margaridas nos quintais de casa.

Lá no meu riacho
As águas criam cabelos
E desenham os sonhos
Do meu rio ... (Luíza)

Que bom, que um tempo de desmame entre lágrimas, e risos me abraçaste e me levaste as ruas da ESPERANÇA, e lá, me sentaste na praça da SAUDADE, no banco do PASSADO para sonhar o sonho do FUTURO.

Saudades de quando eu conversava bobagens em linguagem de criança, com os sapos, com as bonecas de milho, com a chuva que molhava a terra, quando já rachada, gemia. Saudades, daquele amanhecer quando o meu avô José Galdino (Pai Zezo) chegava na janela com meu leite, um pedaço de queijo enrolado na farinha bem torradinha, e ainda perguntava assim: “cumade Lalí, tá faltando mais alguma coisa?” Enquanto isso, eu olhava o sol que brilhava sobre as margaridas enfeitadas de borboletas amarelas, e estendia o seu guarda chuva de luz sobre a minha avó Francisca Cabral (mãe Chiquinha) que ao acordar corria para a cozinha para preparar o cafezinho bem quentinho, que por ter sido torrado no tacho com açúcar torrão, tinha um cheiro gostoso de dar água na boca. E assim, o dia, esperava o acinzentar da noite que empobrecia a sua alegria, ao se apossar do tempo.

Como eu queria que os pássaros falassem comigo, queria sonhar com os cavalos que eu não tinha de verdade, mas estavam lá nos desenhos que eu fazia na escola. Ficava horas olhando o cavalo do meu avô, o cavalo preto de passado, calda bem aparada, do seu José Cipriano. Saudades dos bilhetes que eu escrevia em poesias, pensando que tinha namorado. Penso que aqueles papéis deveriam ter asas e saber endereços. (risos) Saudades da terra quente, do balanço no braço do cajueiro que me fazia sonhar com a luz da Cartilha do ABC – que acariciada pela brisa dos ventos que sopravam as águas do Riacho Jucuri, riacho que se arrebentava de grota à dentro, em épocas de invernada, e no verão se escondia embaixo das terras secas de Serra Verde de Casinhas, e se derramava nas correntezas dos bilhetes do aconchego das letras de paz, na certeza, que em silêncio, realizariam sonhos e transformariam vidas, paz essa que toda criança deveria sentir. Saudades de FRANCISCA!!

FRANCISCA
Com o seu jeito simples
Construiu família
Ensinou-me cidadania
Com provérbios antigos
Coisas que na vida, nunca
Deixaram de ser atuais.
Andou pelas vertentes
Da humildade
Em busca das águas
Da igualdade.
Aprendeu a valorizar
As lágrimas da dor
No ouro do seu silêncio.

Cultivou a herança
Do caráter
Da dignidade da moral
E do respeito ao próximo
Francisca! Foi contigo
Que aprendi que
“SE colhe o que se planta”
Brisa da paz!
Suavizou o seu lado rude
Ajudando o próximo
Com as suas mãos
Fraternais.
Mulher Guerreira!
Maravilhosa!

Um desaguar em canteiros
De flores silvestres.
Hoje, sinto saudades
Da sua fala:
“vamos menina, anda!
Ainda tenho o que fazer”
Um jardim de saudade
De cravos, de rosas,
De cactos também.
Bela flor silvestre!
Margarida do amor!
Luz do além!

Sonhava os sonhos
Sonhados das purpurinas
Dos carnavais que
Nunca brincou.
Os teus olhos comprados
Ao brilho de favos de mel
Enxergava longe...
Cuidado!
A lei era única: dar
O melhor de si.
Respeitar sempre e dormir
O sono do dever cumprido
Francisca, águia voadora!

Fazia das dificuldades
Uma asneira
Plantou trabalho, moral
Justiça e fraternidade
Dos espinhos que encontrou
Nas ladeiras, fez escadas
Para a prosperidade.
Das folhas secas caídas
Fez tapetes, e os travesseiros
Da tranquilidade.
Das rosas tocou as suas mãos
Perfumou os caminhos da
Fé e da esperança.
Francisca! Bela mãe!
Mulher bela, de Deus!

Deus bom! Saciaste a minha sede na cacimba do suor da fé. Foi na base desse desejo de construir que atravessei montanhas de pedras, andei por curvas de caminhos enladeirados, e rasgados pelos viés das macambiras queimadas pelo sol ardente das terra secas do agreste, as quais, me abraçaram em tempo de Deus. E com a lanterna da promessa, me conduziste as grutas distantes em busca das águas do saber, e quando precisei atravessar os caminhos de pedregulhos nas subidas e nas decidas das ladeiras, me calçaste com as sandálias do couro aveludado da misericórdia.

Escreveste a minha história com a caneta da prata divina, a tinta vermelha do amor, nas ondas dos mares infinitos. No silêncio da tua sabedoria divina colocaste-me a espada das letras entre os meus dedos, e as armas da esperança para caminhar num túnel de aprendizado onde levei anos para atravessar, e continuo sem ainda ver o final. Nas encruzilhadas pusestes anjos guardiões que me impulsionaram com a semente da força divina, nas subidas das ladeiras... E acordada nas madrugadas da vida me entregaste em ramagens de confiança e carinho, um buquê com duas flores raras do teu jardim secreto para que eu pudesse regá-las na terra da pedagogia materna, até frutificarem cidadania, flores da beleza, escolhidas do teu jardim dos mistérios do bem, que até hoje, me derramam as gotas do amor, o perfume da fortaleza, e a força mestra da razão de continuar vivendo.

Que bom, ser alimentada pelas águas das cachoeiras desse agreste santo, e receber o perfume dessas flores que alçam voos perfumados além dos muros, além das fronteiras, além do deserto e além dos vales...



You may also like

Nenhum comentário: