NINGUÉM VIVE DE COMER POESIA!

0 Comments
“Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão… Eu passarinho! ” 
(Mario Quintana)


Pelo que dizem e alguns contradizem a veracidade dos fatos, que se não é verdadeiro já virou lenda, como disse a uma amiga escritora. Ao ler o texto: “Por toda eternidade”, fiquei sensibilizado e logo escrevi esta crônica, portanto, mantive a narrativa como se fosse real, sem a pretensão de propagar inverdades, em vez disso, pretendo estender a reflexão sobre a realidade dura e crua da maioria dos escritores brasileiros. Siga a leitura que você entenderá o que digo.

“No desespero de Mário Quintana após ser despejado do Hotel Majestic, em Porto Alegre. Sozinho, miserável, falido, sem esperança e sem ter para onde ir. Ele estava jogado à própria sorte, literalmente na sarjeta. Todo o seu dinheiro acabara, não tinha condição de pagar sequer uma diária de hotel, possuía apenas as malas depositadas na calçada. Mário sentindo-se derrotado, disse: ‘Quisera não fossem lágrimas, quisera eu não fosse um poeta, quisera ouvisse os conselhos da minha mãe e fosse engenheiro, médico, professor. Ninguém vive de comer poesia’ ”.



Analisando a triste realidade da maioria dos poetas e escritores brasileiros pude constatar que inúmeros outros colegas partiram em condição similar ao saudoso Mário Quintana, poeta exemplar, nem por isso valorizado. Para não ser injusto, não citarei os demais, porque a lista seria longa e ocuparia quase página inteira ou se duvidar extrapolaria, todavia, uma certeza eu tenho, muitos outros poetas e escritores vivos, sofrem no limbo da escuridão, sem o devido reconhecimento. Quando partem, se escrevem tratados de ovação em reconhecimento póstumo, em vida nada fazemos para ajudá-los, assim a literatura e os literatos caminham desorientados em nosso país.

Como poeta, cronista e escritor maranhense determinado a vencer o desprezo pela prosa e poesia, me vejo neste cenário, certamente acompanhado por milhares de outros que se dedicam à bela arte de escrever, embora não possam tirar dela o sustento, como disse sabiamente Quintana, naquela situação humilhante, com remorso por não ter seguido a orientação da sua mãe. Ser poeta e escritor é uma escolha de risco para quem deseja viver de poesia.
Aqui pontuo algumas percepções para quem sonha viver de poesia, não entendam como desestimulo é a minha realidade que poderá receber guarida ou ser contestada pelos colegas escritores.

1.Escrevo diariamente por escolha própria, com o propósito de compartilhar conhecimentos, lições aprendidas, experiências de vida e propagar o amor, a paz, a sabedoria e a esperança por todos os recantos do mundo. Isso requer dedicação, tempo e recurso para se tornar possível, pouco recebo em troca, senão, raros comentários de incentivadores. Parece haver antagonismo de classe entre os poetas, literatos e escritores, que se acentua a cada dia, tornando-nos cada vez mais isolados, distantes e fragilizados como associação. Um ponto que merece atenção, aqui me incluo.

2.Mantenho sites para publicações na Internet: falasanches.com, Fala, Sanches (Facebook) e grupos de WhatsApp; Linkedin; Instagram, dentre outros. Vejo o mesmo procedimento sendo usado por diversos colegas escritores, essa prática também demanda atenção, cuidado e investimento do precioso tempo de qualidade para produzir o melhor conteúdo. Estes meios em sua maioria, via de regra, não incentivam, premiam ou recompensam os escritores, ao contrário, normalmente agregam custos adicionais para manutenção. Em resumo: o escritor retira recursos quase sempre escassos de outras fontes para doar o que produz ou publicar o próprio livro.

3.Tenho alguns livros publicados e vejo as livrarias cheias de títulos de autores diversos. Não recebemos incentivos para publicação, tudo o que realizamos é por conta própria. Os custos para revisão, diagramação, impressão e transporte se acentuam a cada dia, enquanto o interesse pela leitura (digo pela compra de livros) cai drasticamente. Imagine a frustração e a ansiedade do escritor que se dedica diuturnamente a escrever, sem a perspectiva de ver o produto do seu trabalho tomar forma de livro por incapacidade de fazer sozinho? Quando consegue de forma independente, na maioria dos casos, os custos de publicação não são recuperados no lançamento, e o escritor permanece na penúria, com os livros nas estantes das livrarias, e o desejo, sonho ou pesadelo de ver a sua obra ser lida.

“Se as coisas são inatingíveis… ora!
Não é motivo para não querê-las…
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!”
(Mario Quintana)

Diante das circunstâncias aludidas, posso afirmar que não é fácil ser escritor. É provável que o grande poeta e escritor Mário Quintana tenha experimentado momentos difíceis diante das tribulações naqueles dias de solidão e abandono.

Como disse o amigo escritor Sanatiel Pereira após a leitura do texto que compartilhei sobre Mário Quintana, ao ser despejado do Hotel, recolhido por Paulo Roberto Falcão e acolhido no pomposo Royal “POR TODA A ETERNIDADE”.
Transcrevo a mensagem de Sanatiel: “Amigo, bom dia! Eu convivi com Mário Quintana por alguns anos. Lamento não ter tirado inúmeras fotos para enriquecer o meu álbum de memórias. Mas, dessa fase que contas e que, por felicidade, estava em Porto Alegre, tem um fato que você não contou. Então lhe conto. Depois de instalado no quarto e visitado por alguns amigos, alguém lhe perguntou se estava satisfeito com o quarto que habitava agora, o poeta respondeu: ‘Sim! Mas, afinal nós moramos é dentro de nós mesmos! ”



O que sustenta a minha missão de escritor e a convicção da escolha é a certeza de que apesar dos desafios e adversidades:  A poesia não alimenta o corpo, mas alimenta a alma. E isso faz bem, porque me sinto capaz de extrair da própria essência o que tenho de melhor para compartilhar com os leitores ávidos por conhecimento e palavras que transformam vidas. O principal motivo para continuar é que: a poesia não morre! Como disse Mario Quintana: “Tão bom morrer de amor! E continuar vivendo…”. Por isso vale a pena!

Por: José Carlos Castro Sanches - Químico, Professor, 
Escritor, Cronista e Poeta Maranhense 
Membro Efetivo da Academia Luminense de Letras – ALPL


You may also like

Nenhum comentário: