SURUBIM: A COR DO BOI FAZ DIFERENÇA?

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Uma autêntica pelagem surubim, para quem não sabe.


Quem conhece um pouco o perfil de Surubim, o simpático município do Agreste, sabe: somos o berço de Chacrinha, Capiba, grandes artistas, literato, políticos. Somos a terra do Carnaval das Meninas Virgens, que no final de semana seguinte ao sábado de Zé Pereira vai voltar a parar o Estado, assim que a pandemia passar.  Somos a terra que fez a primeira importante vaquejada urbana do Brasil, até hoje reconhecida aos quatro ventos como Capital Mundial da Vaquejada. 

RAÍZES

As origens mais remotas do município estão ligadas à pecuária. Depois veio a agricultura. Mais recentemente, comércio e serviços transformaram a cidade em polo dinâmico de desenvolvimento. Mas nem por isso, negamos as origens. A fibra de um povo é tecida pela luta de gerações e não podemos perder as referências do nosso passado.

O BOI SURUBIM 

O nome da cidade veio de um boi. Pertencia a um grande fazendeiro de Bom Jardim, em cujas terras nosso município estava encravado. O homem, Lourenço Ramos, detinha uma sesmaria, ou seja, léguas e léguas de terra. No seu vasto rebanho se destacava um touro afamado, de pelagem surubim. Como era comum na época, e ainda hoje prevalece nas fazendas, os animais eram designados por um nome ou por alguma característica física marcante. A vaca malhada. O boi da cara preta.  Ou branca. O touro calçado (com as patas brancas). A vaca mocha (sem chifres). O preto. O zebu. E assim por diante. Surubim não era o nome do touro. Era a pelagem, pintada, como o Surubim, peixe do Rio São Francisco. O peixe inspirou o nome da pigmentação, das águas para o pasto, do anzol para o laço.

A MORTE DO BOI

Aí pelos 16 anos escrevi e foi publicado o meu primeiro e único estudo sobre a História de Surubim. Trabalho bem sucinto, baseado na tradição oral, suplantado por muitos outros estudos posteriores, mais técnicos e melhor fundamentados. Na época, todo mundo falava que o “ Boi Surubim” foi devorado por uma onça e deu o nome à povoação nascente. Conversando com antigos moradores, incorporei uma variante, defendida entre outros antigos pelo fazendeiro e grande comerciante José Galdino. Qual a versão? O touro, durante uma estiagem, em busca de saciar a sede, se atolou numa lagoa rasa, que existia no atual centro da cidade, precisamente onde fica a Casa Paroquial. Indefeso, foi presa fácil dos predadores. Uma onça, provavelmente das castanhas que eram típicas da região, aproveitou a situação e ajudou a devorar o touro. A partir daí, o local passou a ser conhecido como “Lagoa do Boi Surubim”. Por natural comodidade linguística, a povoação nascente foi denominada simplesmente Surubim. Principalmente depois que o semeador de povoações, Frei Ibiapina, construiu com a população o açude que durante anos abasteceu a povoação com água de qualidade. Existem outras hipóteses. Cada qual defenda a sua. Essa é a minha.

O MONUMENTO

O danado é que a questão da cor do boi foi se perdendo no tempo. Principiante depois que alguém teve a feliz ideia de implantar uma escultura representando a heroica luta do boi com a onça. Uma obra de arte de valor indiscutível. Nas que está contribuindo para apagar de vez a verdadeira memória do boi surubim. 

Já escrevi sobre a pelagem equivocada do boi na escultura do trevo da entrada da cidade. Já falei com os prefeitos Túlio Vieira e Ana Célia sobre isso. A obra de arte foi vandalizada e restaurada. Ótima oportunidade para se corrigir o erro histórico. Ninguém se importou, o boi continuou lavrado, e não pintado. O boi continua aquilo não é um surubim nem aqui nem na China. E assim, o equívoco se perpetua, de foto em foto que os visitantes ou locais tiram na frente do boi com pelagem errada e postam nas redes sociais ou guardam no fundo do baú. Com isso, se divulga a cidade, mas está se apagando a História.

PS.

Além dos surubins que existem registrados no livro de Fernando Guerra sobre as vaquejadas, ainda é possível encontrar aqui, acolá um exemplar autêntico. Recentemente, no Cariri paraibano, numa fazenda na beira da estrada entre Umbuzeiro e Queimadas, a caminho de Campina Grande me deparei com uma vaca da mais legítima pelagem surubim. A qualidade da foto, feita com o celular é deficiente. Mas para quem não sabe o que é a pelagem surubim, fica o registro.

A bela escultura com o touro com falsa pelagem.

Por: José Nivaldo Junior - Publicitário. Historiador. Da Academia Pernambucana de Letras.  
Autor do best-seller internacional “Maquiavel, o Poder”. 


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