ERROS E ACERTOS NA CONDUÇÃO DO PAÍS

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Virginia Pignot.


 I Introdução

O dito e o não dito.

A mídia e Instituições que contribuíram com o impeachment/golpe para destituir Dilma Roussef haviam prometido que o Brasil só teria a ganhar com a mudança. 

Diziam que com seis meses de aplicação do programa “Ponte para o Futuro”, proposto por Temer, o Brasil seria uma maravilha. Mas foi o contrário que aconteceu.

Dilma recusou a aplicação deste programa, e foi afastada do cargo por isso, como contou o próprio Temer quando assumiu a presidência.

Consequências

Segundo o economista Paulo Kliass as medidas propostas pelos governos Temer e Bolsonaro “revelaram-se uma verdadeira tragédia social e econômica. O resultado veio sob a forma de recessão, desemprego, aumento da miséria, e da fome.”(1) 

A pandemia agravou este quadro que já estava presente antes dela.

E agora?

Neste ano de eleições no qual decidiremos quem tomará as rédeas da Nação pelos próximos anos, proponho elementos para alimentar o debate e a reflexão. Falaremos da história de atropelos institucionais, do papel de desinformação da midia da elite do atraso, de erros de governos anteriores, da Direita e da esquerda brasileira. 

II Atropelo Institucional

A história não parou no golpe.

a) O Mensalão se revelou ser uma grande mentira.

A Visanet na origem da Operação não era uma empresa pública, e as operações que realizara eram legais, o que desmorona a denúncia inicial. 

O voto de Rosa Weber para condenar José Dirceu no mensalão é esclarecedor da insegurança jurídica que se instalou no Brasil: “Não tenho provas, condeno porque a literatura jurídica me permite…”?!

b) A Lava Jato foi desmascarada

Se na Lava Jato, um dos motores essenciais ao golpe, Dallagnol acusou Lula de ser o dirigente de uma quadrilha, criminalizando o PT, esta denúncia foi anulada, e o Ministério Publico nem recorreu.(2)

A Vaza Jato revelou os interesses políticos, financeiros, e a sujeira na qual se envolveram os ex heróis do falso combate à corrupção. O julgamento da suspeição de Moro no STF revelou ilegalidades cometidas pelo então juiz e ele teve várias sentenças suas anuladas. O ex presidente Lula foi inocentado.

Os diálogos e áudios captados foram revelados pelo The Intercept Brasil, e difundidos em parceria com outros órgãos da imprensa respeitando o sigilo da fonte. Depois foram apreendidos, periciados e autentificados pela Polícia Federal na Operação Spoofing, que revelou graças ao hacker Walter Delgatti, ilegalidades cometidas pelos membros da força tarefa.

 Este material revelou a existência, entre outros atropelos cometidos na Operação:

- de testemunha falsa inventada por delegada da P.F.,

- de delação escrita por procurador e não pelo delator para incriminar o PT,

- de encontro secreto de Dallagnol com um dos filhos de Roberto Marinho para assegurar o apoio da Rede Globo às medidas autoritárias propostas por membros da Força tarefa,

- de encontro de Moro e Dallagnol (3) com membros do Supremo  e com representantes do mercado internacional no Rio para garantir por antecipação aos últimos a não eleição de Lula.

Foi revelada também a cumplicidade culpada de membros do Ministério Publico, da Operação Lava Jato com o Departamento de justiça americano, complotando com eles contra o interesse nacional, a troco de embolsarem ilegalmente para Fundação da Lava Jato parte da multa bilionária da Petrobras aos EUA. 

c) Outros atropelos institucionais que acompanharam o golpe

Membros do Supremo Rosa Weber, ministra do STF que votou decisivamente para Lula ficar na prisão negando o habeas corpus prescrito pela Constituição, teve argumentação incoerente e contraditória para justificá-lo. Ela disse mais ou menos: “Nao é minha convicção, mas voto para acompanhar a maioria.” Sendo que como “o jogo estava empatado”, é o seu voto que formou a maioria. Por coincidência ou não, ela tinha acolhido Sérgio Moro no passado como estagiário, e é casada com um cidadão americano, pais que trata a América Latina como fosse o seu quintal.

Conflito de Interesse e Geopolítica 

Meireles foi ministro de Lula, e foi afastado da direção do Banco Central por Dilma em 2009. Houve depois da saída dele uma baixa de juros que favoreceu a economia, mas desagradou aos rentistas milionários e bilionários que mamam nas tetas do sistema financeiro. 

Depois Meireles se aliou aos golpistas que quebraram a lei da partilha, favorecendo o aumento de lucros dos acionários minoritários da Petrobras na bolsa de Nova York, e tirando dinheiro dos lucros da Petrobras para os brasileiros. Meireles tem a dupla nacionalidade, é americano e brasileiro. Alguns países impedem o acesso às pessoas com dupla nacionalidade, a cargos em áreas estratégicas do país, considerando que a condição que pode configurar risco de espionagem ou de conflito de interesses. 

d) Erros dos governos Lula e Dilma

Taxa de juros SELIG, e outras escolhas que não deram bons resultados.

Lula deixou a taxa de juros alta, o que dificultou o desenvolvimento industrial do país. O empresariado lucra mais aplicando seu dinheiro no mercado financeiro, do que desenvolvendo um projeto industrial. Um desses empresários disse na sua auto-biografia que com a taxa de juros elevada da época, ele poderia pagar a divida com lucro de aplicação financeira e ficar ganhando sem fazer nada.

O jornalista Luis Nassif acha que Lula pecou por excesso de otimismo, de republicanismo, e negligenciou a questão da escolha de ministros para o STF, por exemplo. Ele diz que nos EUA, um presidente democrata nunca vai escolher para o STF alguém do outro campo politico, ou vice-versa. Neste sentido, uma lástima foi exprimida, pela não indicação por Lula ou Dilma de um Eugênio Aragão,por exemplo, para a Suprema Corte. “Erro”, alias, que não foi cometido por FHC, por exemplo, quando escolheu Gilmar Mendes para o cargo. O ministro Gilmar foi muito fiel aos tucanos, “pedindo vistas”, por exemplo, em processo no qual um tucano era réu, até que o crime denunciado prescrevesse. Lula não queria ser privilegiado, mas acabou sendo perseguido.

Nassif também acha que os petistas negligenciaram o “complexo de escorpião” da elite rentista brasileira. No conto, o escorpião é levado nas costas pelo sapo que o ajuda a atravessar o rio, mas tem o impulso de picar o sapo, que envenenado, morre, e os dois são engolidos pela correnteza. Assim, a elite, mesmo levada nas costas pelo povo e pela ajuda do governo progressista, ainda conspira contra ambos. 

 Dilma infelizmente foi mal aconselhada e voltou a subir a taxa de juros SELIG em 2012. Como analisa criticamente Luis Nassif (4) “Como se mantém a taxa Selig tão alta com a demanda desabando, o PIB caindo, o desemprego em vias de explodir?”

Presente fiscal

Dilma faz auto-critica do que foi, segundo a própria, seu maior erro: o presente fiscal que deu no seu segundo mandato a grandes empresas para que elas criassem emprego. O setor privado não cumpriu a sua parte, e a receita perdeu bilhões do orçamento que financia aposentadorias, e outros direitos.

Ela tentou aplicar medidas contra a crise, mas o presidente do Congresso, Eduardo Cunha, bloqueou a governabilidade com pautas bombas. A crise alimentada pelos seus opositores, foi usada como pretexto para tirá-la do Poder. Talvez seja um ponto a ser revisto, que um presidente de congresso detenha sozinho o poder de bloquear a governabilidade do país.

III A midia nada democrática

Medidas econômicas catastróficas dos governos Temer e Bolsonaro apoiadas.

-No século passado a midia atacou Getúlio que instaurou os direitos trabalhistas no Brasil, Juscelino Kubitschek, João Goulart, que defendia a reforma agraria, Brizola, que defendia educação integral na escola pública, e conseguiu instalá-la com sucesso durante seu governo no Rio de Janeiro… 

-Já no século XXI, a mídia atacou Lula e Dilma, mesmo quando governos petistas conseguiram tirar o Brasil do mapa da fome e erguer o Brasil à sexta potência mundial; em vez de exaltar as benfeitorias, o pagamento da dívida externa, as reservas acumuladas em dólares, o incentivo às escolas técnicas, universidades, ciência e tecnologia, o incentivo à agricultura familiar e muitos programas sociais bem sucedidos, os jornalistas dos barões da mídia preferiam fazer escândalo com uma tapioca comprada com cartão corporativo por um ministro, ou por um pedalinho comprado pela primeira dama.

Com Temer e Bolsonaro, a mídia apoia as medidas econômicas catastróficas destes governos, o teto de gastos, as privatizações de empresas públicas lucrativas e estratégicas, na contramão do que se faz nos EUA, por exemplo. 

-A mídia apoiou o ladrão Cunha, e seu pedido fraudulento de impeachment. 

-Toda a destruição que a Lava Jato impôs à economia brasileira não mereceu uma linha de avaliação da “grande” imprensa.

- Os professores de economia brilhantes não têm voz na “grande” mídia. Ela convida pseudoexperts para apregoar os dogmas ultrapassados da economia neoliberal, enganando o povo, e talvez até os políticos crédulos.

Estes dados me fazem afirmar que esta mídia não está nunca do lado dos trabalhadores, nem de projetos de governos progressistas; ela defende sempre os lucros exorbitantes, impostos leves ou inexistentes para quem já é milionário, por um lado, e do outro lado, defende o arrocho salarial e a retirada de direitos dos trabalhadores, mesmo que esta politica econômica aumente a desigualdade social e “quebre” o Brasil.

Segundo Vladimir Safatle,(5) a direita brasileira sabe qual é o seu papel, e o exerce muito bem. Eles precisam preservar um processo de espoliação, de opressão, de controle e de contenção da sociedade brasileira, que é oposto a qualquer coisa que a esquerda represente.

IV Nossa capacidade de Desenvolvimento

Como dar a volta por cima?

O Brasil já provou sua capacidade de Desenvolvimento. O economista Cláudio da Costa Oliveira, vice-diretor cultural da Associação de engenheiros da Petrobras nos lembra que entre 2009 e 2014 a receita líquida da empresa sempre foi superior à 140 bilhões de dólares/ano. O Brasil mostrou que pode crescer com investimentos e governança adequados.

Em 2020, a receita caiu para 54 bilhões de dolares/ano. A perda é maior que o PIB da maioria dos países, mas ninguém fala nada. Apesar dos pesares, o economista pondera que o país tem total condição de se desenvolver a partir da sua própria cultura e soberania.(6)

Economistas falam de mudanças necessárias para escaparmos da ditadura do mercado financeiro sobre a economia do nosso país,(7) e da importância da regulação necessária a ser exercida pelo governo sobre a alocação de recursos que acabou nas garras do mercado financeiro, para poder viabilizar a aplicação do programa escolhido pelo voto do povo.(8)

V Conclusão

Fomos vítimas de propaganda enganosa disfarçada em informação. O vírus do ódio e das fake news, o desmonte das politicas públicas, a falta de coordenação do governo federal no combate à pandemia, a fragilização dos direitos dos trabalhadores, golpearam às vezes letalmente a Nação brasileira. A justiça do espetáculo desvendou seu aspecto sórdido.

O economista Paulo Kliass (1) diz que as eleições de outubro deste ano serão um bom momento para sinalizar na direção de mudanças necessárias. O próximo governo, mesmo se for progressista, vai necessitar de muito apoio popular para aplicar o programa para o qual sera eleito.

Lutemos para não sermos mais marionetes manipuladas pelos interesses dos barões da mídia, ou daqueles que vivem de juros e dividendos mamando nas tetas de um sistema financeiro desumano.  Eleições podem ser a oportunidade para retomarmos as rédeas das nossas vidas, e da Nação brasileira.

Bibliografia

1 A economia e a reforma trabalhista. Paulo Kliass, Carta Maior, 18-01-2022

2 Saídas para a crise do Brasil, Lula na TVT, 247, 01-03-2022

3 Diálogos revelam jantar “reservado” de Moro e Dallagnol na casa de Barroso, do STF, Brasil de Fato, 16-07-2017

4 Um desastre chamado Banco Central jornal GGN, coluna econômica, 21-01-2016

5 A Luta contra a extrema-direita acaba na eleição? André Barracal entrevista Vladimir Safatle, Carta Capital, 14-01-2022.

6 Pais não é soberano. Está nas mãos de abutres. Cláudio da Costa Oliveira, aepet.org.br 

07-01-2022

7 O Bonde da Industrialização, Nova Economia, TV ggn

8 Os Rumos da Economia para 2023, Prerrô. Conde, Luis Nassif, Guilherme Melo, Belluzo

Por: Virginia Pignot - Cronista e Psiquiatra.
É Pedopsiquiatra em Toulouse, França.
Se apaixonou por política e pelo jornalismo nos últimos anos. 
Natural de Surubim-PE.


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