OLHARES QUE SE ENCONTRAM

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Maria Teresa Freire.


Outra festa elegante e muito concorrida aconteceria em breve. Humberto havia sido convidado. Ele estava pronto para enfrentar a batalha pelo amor de Vanessa. O tal primo Jorge, que esvoaçava em torno dela tentando conquista-la teria um adversário muito persistente e que realmente amava aquela linda e preciosa jovem.    

Humberto vestiu-se primorosamente para a festa. E lá, obviamente, avistou Jorge. Vanessa ainda não havia chegado. Ele aguardou por ela no jardim, pois queria que entrassem juntos. Assim que o viu, ela abriu um sorriso encantador e de braços dados ingressaram no salão. Jorge, percebendo a chegada dos dois, tratou de ir logo cumprimentar Vanessa. 

Pelo comportamento do homem, Humberto constatou o interesse dele pela sua amada. Os dois, da mesma altura e postura, tiveram um embate silencioso somente com os olhares. Humberto deixou óbvio que namorava Vanessa. Jorge deixou claro que pretendia arrebatá-la e namorá-la. Instalou-se a guerra de titãs! Na realidade, seria uma intensa competição pelo amor da moça. 

Humberto acostumado a fazer pesquisa, aplicou seu conhecimento para investigar, na internet, sobre Jorge, o advogado. Bingo! Descoberto algumas situações complicadas e não resolvidas favoravelmente para os clientes dele. Ele havia sido Promotor Público e como tal havia feito ‘vista grossa’ para a culpa de alguns réus (com certeza em troca de propina, refletiu Humberto), apresentando acusações fracas, facilmente refutadas pelos Advogados de Defesa. Por isso, Jorge tinha condições de comprar (à vista) uma das melhores e mais caras casas do bairro. 

Jorge mantinha um contato persistente junto a Vanessa. Ele sabia da boa condição financeira da família dela e isso também era um fato para determinar seu ‘sentimento’ por ela. Um grandessíssimo interesseiro! Flores, convites para sair o tempo todo. Às vezes aceitos, outras não. Aos convites para jantar, Vanessa se desculpava dizendo que tinha uma festa e ele se convidava para ir. Humberto estava presente em todas as festas e conseguia neutralizar o acesso dele à jovem. Também percebia que ela não estava entusiasmada com a insistência dele. Os pais dela, sim. Um advogado charmoso, morando em uma bela casa no mesmo bairro. Se ela se casasse com ele, ficaria próxima da família. Mas, Humberto morava bem mais perto. 

Uma tarde, Vanessa apareceu transtornada na sua janela (as janelas ficavam abertas o dia todo, agora). “Humberto, Humberto” Vanessa chamou. Ele surgiu do outro lado: “sim, Vanessa”.  Aflita ela declarou “preciso falar com você!” Pressentindo que algo teria acontecido ele respondeu: “que horas você pode? Eu adapto meu horário ao seu”. “Às 16 horas na confeitaria onde sempre vamos”. “Combinado”, ele concorda. Apressada, ela fecha a janela, fato que Humberto estranhou.

Na confeitaria, Vanessa demonstrava seu nervosismo na fala rápida e no jeito de mexer as mãos. “Vanessa, o que aconteceu? Nunca vi você assim nervosa!” Muito tensa ela fala: “preciso saber de algumas respostas de você; nosso relacionamento é sério para você, Humberto? Quão sério? O que você pretende comigo? Quais são seus planos para o futuro? Ou melhor, nós temos um futuro? Humberto se assustou com aquela avalanche de perguntas: por que você me pergunta tudo isso, Vanessa?” “Responda Humberto! Eu preciso saber das suas intenções!”  Ele olhou para ela bem compenetrado e respondeu: “eu quero me casar com você, se me aceitar, mas achei que ficaríamos noivos, primeiro. Você quer ser minha esposa, Vanessa?” Humberto, é o que mais quero!” Sério, ele comenta: “então vou conversar com seu pai”. 

 - “Afinal, Vanessa, o que você queria falar comigo tão desesperadamente?   

- É que Jorge está pretendendo me pedir em casamento. Mamãe e papai aceitarão.

- Você não quer se casar com ele, afirma Humberto.

- Não, não quero, responde Vanessa veementemente.

- Seu pai está em casa agora à noite?

- Sim, deve estar. Por que?

- Vamos para sua casa. Vou conversar com ele sobre nosso casamento, ou seja pedirei você em casamento. 

Decididos, os dois foram para a casa dela. Ao entrar ela chamou pelos pais. A empregada avisou que eles estavam no escritório. Para lá eles se dirigem. Vanessa bate na porta e ouve um “entre”. Com Humberto seguindo-a, ela disparou: “Pai e mãe, vocês conhecem Humberto, nosso vizinho, com quem tenho saído. Humberto interrompe-a: “na verdade, eu gostaria de pedir licença para namorar sua filha (ele queria agradar aos pais dela),  futuramente ficarmos noivos e planejarmos nosso casamento. Eu amo sua filha, quero passar o resto da minha vida ao lado dessa mulher inteligente, com um maravilhoso senso de humor, delicada, apaixonada pela vida e, além de tudo, muito bonita. Tenho condições de mantê-la e aos nossos filhos no mesmo padrão que ela tem agora. Inclusive, estou negociando para comprar a casa ao lado ou outra que Vanessa queira. Se os senhores quiserem me perguntar mais alguma, ficarei feliz em responder. Então?!”

O pai de Vanessa respondeu: “rapaz, você me deixou sem fôlego! Creio que não faltou muita coisa para perguntar a você! Mas, à minha filha sim:  “o que você me diz, Vanessa?” Muito séria, ela responde: “eu o amo, papai. Ele também é um homem bom, inteligente, tem um trabalho importante. Trata-me com gentileza e carinho. Nós combinamos em quase tudo. Além do amor que sentimos um pelo outro, nós ansiamos estar juntos”.

A mãe de Vanessa interrompeu: “e o Jorge? O que vamos dizer a ele?”  Vanessa rapidamente respondeu: “que eu já namorava o Humberto, a quem amo; estávamos planejando casamento quando ele chegou”.  O pai de Vanessa acrescenta: “ele andou me sondando sobre noivado, mas eu me fiz de desentendido. Eu explicarei a ele. E você, Humberto, venha almoçar conosco no domingo; vamos conversar sobe esse seu trabalho importante”. Humberto, muito educado, só tinha que concordar com o futuro sogro. “agora, se nos dão licença, eu e sua mãe vamos confabular sobre essa questão”. Acrescenta a mãe: “um namoro que nos dê tempo para organizar o noivado e depois o casamento, com calma.”

Vanessa e Humberto saíram de mãos dadas com olhares apaixonados um para o outro. Não precisariam mais inventar cursos para ficarem juntos. Todavia, as conversas pelas janelas continuariam, até que fosse uma janela só para os dois.

À noite, na costumeira despedida nos beirais das janelas, a mãe de Vanessa falou alto: “vocês dois, vão dormir! Amanhã estarão juntos!”

Assim foi. No dia seguinte e em todos os dias do futuro estariam juntos, compartilhando suas vidas com respeito, carinho, muita conversa inteligente. Principalmente, com muito amor!

Por: Maria Teresa Freire - Jornalista, Escritora, Poeta, 
Presidente da AJEB – Coordenadoria do Paraná.


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