A DESCOBERTA DE UM AMOR - PARTE II

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Maria Teresa Freire.


Bernardo retorna uma semana depois. A mãe, surpresa, perguntou: “você não teria que ficar na cidade uns 15 dias?” Bernardo responde rindo: “senti falta da praia”. A mãe rindo, comentou: “da praia?  Pelo que percebi sentiu falta de outra coisa bem diferente. Na realidade, de uma pessoa, que está na piscina com suas irmãs”, disse ela piscando para Bernardo.

Eu estava sentada de costas para a casa, quando senti alguém chegar muito perto e murmurar no meu ouvido: “tomando sol, minha sereia?” Levei o maior susto! Virei-me para ele e espantada perguntei: “ué! Veio antes?” As gêmeas nos observavam rindo. “Pois é, senti saudade de vocês”.  As gêmeas gargalhando, comentaram: “até parece que sentiu saudade nossa”. Você sentiu saudade da Samantha, seu fingido!” Eu fiquei vermelha igual uma beterraba. Bernardo deu uma gargalhada, não disse nem sim nem não e sentou na espreguiçadeira ao meu lado. Ficamos lá, conversando, bebericando uma limonada, enquanto Julinho (o irmão mais novo) dava saltos ‘ornamentais’ (assim ele achava) na piscina. 

Naquela noite, os pais deles saíram, as gêmeas foram para a casa de uma amiga, mas eu, cansada, preferi ficar em casa. Deitada na rede da varanda, vi Bernardo se aproximar. Fiquei surpresa, achei que houvesse saído.  “Quis ficar com você” disse ele, deitando na rede comigo. Essa aproximação não foi nada boa, porque foi excitante demais para os dois. E as carícias cada vez mais sensuais, os beijos cada vez mais profundos. Eu sentia a calidez do corpo dele me inebriando. Ele me puxou e fomos para o quarto dele.  Foram momentos mágicos para mim. Amando aquele homem por tantos anos, finalmente o amor seria extravasado, pois até agora vivia bem escondido no mais recôndito do meu ser. 

Ele foi maravilhoso. Um amante ardente, mas delicado. Ele me sussurrava que estava encantado com meu jeito tímido de expressar meu amor. Momentos gloriosamente eróticos que me levaram a alcançar um prazer indescritível. “Ah! Samantha só esta noite não vai me bastar. Quero você todas as noites aqui, comigo” Bernardo disse num sussurro rouco. No dia seguinte, ele me levou para jantar. “Só vocês dois”? Perguntaram as gêmeas. Bernardo nem respondeu. Levou-me a um motel muito chique. Eu nunca tinha ido a um. Jantamos como ele mesmo falou. Junto com muito sexo amoroso, cuidadoso, inebriante. Choques de prazer. Não conseguiria descrever. Só sentir a intensidade de dois corpos em um só.  

Os dias na praia chegaram ao final. Voltamos para casa. Minha mãe me achou meia quieta, mas eu não queria contar a ela nada do que havia acontecido. Bernardo me convidou para almoçar. Na casa dele. Eu disse à minha mãe que iria com a família das gêmeas, por isso Bernardo viria me buscar. “Por que almoço? Eu perguntei. “Porque assim você pode passar a tarde comigo e sua mãe não vai reclamar que você chegou tarde” E ainda sorriu  com  aquele jeito malicioso. Já sentia um arrepio pelo que viria. Carícias incandescentes, beijos apaixonados, amor enlouquecedor.

Repetimos esses ‘almoços’, na casa dele, mais algumas vezes. Dias depois, Bernardo teve que viajar por conta do trabalho. Ficaria alguns dias fora. Estendeu-se por um mês. Sem fazer muito contato. Respondeu a algumas das minhas mensagens, não a todas. Respondeu a uma ou outra ligação minha. Estranhei aquele comportamento. Ele estaria muito ocupado ou teria dúvidas em manter nosso relacionamento? Ele esteve muito tempo descrente de relacionamentos e mulheres. A experiência com a primeira esposa foi excruciante. Eu conseguiria  despertar o que ainda de bom restava nele? Eu poderia curá-lo definitivamente? E para mim, como seria depois que passasse a novidade? Se ele tinha dúvida eu também tinha.

Quando retornou Bernardo estava um pouco distante. Logo me procurou sem explicar a razão de tanto tempo fora com o mínimo de notícias. Levou-me para jantar, sem irmos para seu apartamento. Estava gentil, mas não amoroso como antes. Mesmo me abraçando e beijando o jeito era distraído. Perguntei a ele se havia acontecido alguma coisa. Ele fugiu do assunto. Insisti tanto que ele se aborreceu e acabou desabafando: “Eu tive que me afastar de você. Precisava refletir sobre nosso relacionamento. Apesar de saber que você é a mulher certa para mim, eu tenho medo de não ser o companheiro certo para você. Tenho medo de fazê-la infeliz. Até de atrapalhar sua vida impedindo que você conheça outro homem muito melhor”. Deixou-me em casa e não nos falamos mais.

Dois dias depois, as gêmeas vieram me convidar para outra temporada na praia, durante o período do Carnaval. Elas passariam praticamente o mês lá. Delicadamente recusei o convite, alegando que deveria viajar com minha mãe. Se Bernardo fosse também, não queria impor minha presença a ele depois da maneira fria com que me tratou e das dúvidas todas que me apresentou.

Resolvi visitar meus avós que moravam no interior, em uma chácara. Um local aprazível, bem cuidado. Minha avó cultivava orquídeas e meu avô se encarregava de vendê-las para algumas floriculturas. Eles se distraiam com aquela atividade que também lhes dava lucros. Como não estava me sentindo bem, resolvi ir ao médico antes de viajar. Nada grave constatou a médica. Somente gravidez. Somente?  Estava grávida! Não era grave? Era uma catástrofe! O que faria? Refletiria sobre isso no sossego que eu teria na chácara.

O sintoma principal que as grávidas sentem chegou: os malditos enjoos. Vovó percebendo meu estado melancólico, carinhosamente me perguntou o que acontecera. Aos prantos contei tudo a ela. “E o rapaz? Perguntou. Não disse quem era. Ela respeitou minha privacidade. Novamente, perguntou: “o que pretende fazer?” Respondi, desanimada: “não sei vovó. Não sei de nada. Estou perdida e desolada”. 

Eu passava os dias meio apática, considerando minhas possibilidades. Minhas amigas gêmeas me enviavam mensagens o tempo todo. À noite, às vezes, conversávamos. Elas estranhavam demais o meu comportamento. Contaram que Bernardo perguntara porque eu não havia ido para praia. Estava muito zangado. Queria saber onde eu estava. Eu não respondia suas mensagens e telefonemas. Eu queria distância dele para clarear minhas ideias e decidir o que fazer. 

Pouco depois, ele apareceu na casa dos meus avós. Nervoso e aflito perguntou logo por mim. Eu estava sentada no jardim quando o vi se aproximando. Vinha devagar me observando com olhos estreitados. Quando ficava preocupado sempre fazia assim. “Por que fugiu de mim?” Perguntou de modo ríspido. Para minha vergonha tive uma ânsia forte e vomitei todo o café da manhã. Ele, atônito, perguntou se eu estava doente. Depois de me recompor respondi irônica: “doente não, grávida, o que não é doença, até onde eu sei”. Na hora ele ficou atônito e replicou: “Ei garota respondona! Grávida de um filho meu? Revirando os olhos, murmurei: “não, do jardineiro com quem estive saindo”. Rindo, ele comentou novamente: “Eita, língua afiada. Por que não me contou logo e preferiu se esconder aqui?” Zangada, falei: “não vim me esconder, vim visitar meus avós!”. 

Sentado do meu lado, me abraçou com força e bem junto ao meu ouvido falou: “ah! Minha menina preciosa, fiquei apreensivo quando não a vi na praia com as gêmeas. Elas me disseram que você não se sentia bem, mas não me disseram onde estava. Não consegui falar com sua mãe. Tive que ameaçar minhas irmãs para me contarem. Eu disse a você que estava com medo de agarrar essa chance de felicidade. Mas, eu senti uma saudade louca sua. O que eu mais queria era tê-la ao meu lado. Quando não pude encontrá-la na praia percebi que não podia ficar sem você. Por que fez isso?” Eu comentei: “ você estava muito estranho da última vez que nos vimos. E falou aquilo tudo sobre ter medo. Entendi que talvez não quisesse continuar o nosso relacionamento”. Surpreso, Bernardo comentou muito sério: “eu lhe  passei essa ideia, por tudo que temia. Mas, não posso viver sem você”.    Com ar emburrado, eu completei: “você passou  quase um mês fora e mal fez contato. Nem sabia se me queria”. Ele pergunta incisivo: “você ainda está insegura em relação a mim, Samantha?” Olhei com dúvida: “sinceramente? Estou sim...

Eu não consegui terminar a frase, pois ele me abraçou mais forte ainda, me aconchegando ao seu corpo e me beijou sofregamente. “Não tenha dúvidas do meu sentimento por você. Eu estava com muitos problemas de trabalho para resolver, bastante preocupado e ainda pensando nas consequências do nosso namoro. Com essa maravilhosa notícia que me deu vamos casar amanhã mesmo!”

Bem, não casamos no dia seguinte. As mães (minha e a dele) queriam organizar uma cerimônia na igreja e uma recepção, ainda que simples. Afinal eu era a única filha de minha mãe a se casar. Assim foi feita a vontade delas. A celebração pode ter sido simples, com as pessoas mais chegadas, entretanto a felicidade era transbordante!

Meses depois, o bebê chegou. Um menino saudável e com um pulmão muito forte. Ficava bravo quando tinha fome e fazia com que todos soubessem. Bernardo perguntou-me se tinha ideia do nome. Se ele concordasse seria Daniel como meu pai. “Não poderia ter um nome mais bonito, minha querida”.

Com muito amor nos olhos e o filho nos braços ele disse: “minha esposa preciosa eu percebi que amo essa criaturinha não porque ele seja um pedaço de mim, mas porque ele é um pedaço de você a quem amo, com um amor incomensurável.

Por: Maria Teresa Freire - Jornalista, Escritora, Poeta, 
Presidente da AJEB – Coordenadoria do Paraná.



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