O FENÔMENO DA EMIGRAÇÃO

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Fernando Manuel Madeira.



Recordo os anos 60/70. Mais exatamente, 1974. Dava-se em Portugal continental, o 25 de Abril. Revolução que depunha o regime de Salazar que já tinha falecido ou Estado Novo, como era conhecido. Para dar lugar ao regime de democracia. Hoje existente. 

Tal situação agitava dramaticamente o Portugal ultramarino, provocando a debandada de milhares de portugueses residentes. Essencialmente, por razões de segurança. 

Lá deixaram os seus bens? Frutos de uma vida de trabalho, deles e de seus ascendentes. Muitos, a maior parte, voltaram a Portugal, onde enfrentaram novos desafios e muitas dificuldades. 

Muitos sobreviveram sonhando e morrendo de saudades dos países africanos. Onde viveram? Alguns lá nasceram. E onde deixaram toda a sua vida e os seus bens? 

Notória a ingratidão e ódio dos novos poderes e novos líderes. Em África e do seu próprio país - Portugal - pela falta de apoio na reintegração. 

Outros com novos horizontes em mente. Escolheram outros destinos, entre eles o Brasil. Era A Terra Prometida. Um país em desenvolvimento, de muitas promessas e onde se podia viver em paz e feliz. 

Nessa data, tinha 24 anos. E tinha regressado de Angola. Era jovem tinha força. Capacidade de trabalho e muitas ambições. 

Tentei de tudo. Desde desde a exigência de carta de trabalho. Referências. Apoios, etc. Mas era grande a dificuldade e a exigência. 

Pensei em outras possibilidades, como França. Mas sem conhecimentos era missão Impossível. 

Quase 50 anos passados. E tudo se inverteu. Portugal, não sendo bem a Terra Prometida, é hoje destino. De muitos imigrantes desde África. Índia, Roménia, Ucrânia e outros países do Leste ao Brasil. 

Uma população de cerca de 11 a/12 milhões em Portugal em hoje uma taxa. De quase um milhão de emigrantes maioritariamente brasileiros - cerca de 30% os recenceados, havendo alguns milhares já com dupla nacionalidade e outros ainda clandestinos em busca de um emprego que dê acesso a uma autorização de residência. Um povo sobrevivente que se adapta a todas as situações. Desde o apoio em comunidade à procura de trabalho diversificado, tentando sobreviver, até no recurso ao Banco Alimentar e outro Apoio Social, que Portugal não recusa. 

Esse fenómeno revela-se até na taxa demográfica. Considerando o número de nascimentos em Mulheres brasileiras, superior a qualquer outro em Portugal. Há investigações sobre organizações de viagens de Mulheres do Brasil para Portugal em estado de gravidez avançado e que vêem em Portugal o local ideal para o nascimento dos seus filhos, como facilidade de acesso a cartões de residência e posterior nacionalidade. 

Em Portugal, hoje o Brasil já não é só novelas. Em qualquer lugar se sente a presença do Brasil nos muitos locais de trabalho.  

Com as crises políticas no Brasil e a guerra na Ucrânia, as dificuldades crescem, aqui mais controladas por não se deixar acelerar mais a inflação e controlo de preços nos bens essenciais, daí que se preveja um aumento de emigração maior a curto prazo. 

Mudam os tempos, mudam as vontades, mudam as políticas, mas sobrevivemos...

Por: Fernando Manuel Madeira - Escritor, Jornalista e Cientista da Computação.




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