A CAROLINA

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DRª Virginia Pignot.

 

I Um grande homem, uma grande mulher.

Vamos falar hoje da vida e obra do poeta, funcionário público, jornalista, e um dos maiores escritores brasileiros, Machado de Assis. Saindo do romantismo que apresentava as virtudes e o amor como vencedores, e o casamento como “solução final”, idealizada e garantidora de felicidade e da ordem social, Machado foi um dos introdutores do realismo no Brasil. Fazia uma crítica social afinada e irônica da elite da época através dos seus personagens desprovidos de moralidade, de “juizo”... Se casou com a mulher amada, a quem dedicou o soneto do nosso título e conclusão.

II Origens

Nasceu em uma das colinas (morros) do entorno do Rio de Janeiro, na chácara de uma família abastada onde seus pais trabalhavam. Seus pais eram alfabetizados; seu pai mulato filho de escravos liberados, sua mãe de origem portuguesa. Fez aí a escola primaria, aprendeu o francês com o padre da paróquia onde era coroinha. Perdeu a mãe cedo. Foi morar no Rio com o pai e a segunda esposa deste, dedicada. Autodidata, além do francês, aprendeu alemão, inglês, grego clássico. Trabalhou desde a adolescência como tipógrafo, mais tarde revisando textos... Fez amizades no meio boêmio e intelectual carioca. Ingressou na função pública, tendo cargos em vários ministérios, sendo diretor-geral da contabilidade no final de carreira. Casou com a irmã de um amigo, uma portuguesa com boa bagagem intelectual que repartia com ele o amor dos livros, da literatura, corrigia seus textos...

III Realismo  

Fugindo de relatos edulcorados do romantismo, Machado descreveu nos seus livros e contos, mulheres que casavam por puro cálculo, para obter riqueza ou ascensão social (A Mão e a Luva); homens como o personagem principal de “Memorias Póstumas de Brás Cubas”, que se apaixonou na juventude por uma prostituta de luxo, que o amou “durante 15 meses e 11 contos de réis” e encontrou mais tarde na amante burguesa e insatisfeita no casamento, seu “travesseiro”; um médico psiquiatra de muito prestígio na cidade depois da formação na Europa, que acaba achando que todo mundo era louco e devia ser internado… a não ser que seja ele mesmo o louco? (O Alienista)

IV Nos artigos a jornais, Machado não seguia a boiada da elite.

Humanista, Machado soube defender direitos dos excluídos. Foi abolicionista, desenvolvendo argumentos contra a escravidão; foi “Conselherista”, defendendo agricultores, pequenos  proprietários que se uniram à Antônio Conselheiro. A comunidade livre e autônoma era bem integrada ao meio rural, seus membros viviam dos bens que produzia ou do aluguel da sua força de trabalho.  Mas era mau vista pelos ricos fazendeiros e proprietários com mentalidade escravagista, que perdiam mão de obra barata com a migração dos seus empregados para a comunidade. A elite descrevia os membros da comunidade como ladrões, e conseguiu intervenção militar da nova República para atacá-la, no conflito de Canudos.

IV A Carolina, em homenagem a uma bela história de amor

1 - Querida, ao pé do leito derradeiro,       


2 - Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro

Em que descansas dessa longa vida,        

Que a despeito de toda a humana lida,

Aqui venho e virei, pobre querida,           

Fez a nossa existência apetecida

Trazer-te o coração do companheiro.        

E num recanto pôs o mundo inteiro.


 3 - Trago-lhe flores, restos arrancados      

  

4 - Que se eu tenho nos olhos malferidos  

Da terra que nos viu passar unidos            

Pensamentos de vida formulados,

E ora mortos nos deixa separados.            

São pensamentos idos e vividos.

Por: Drª Virginia Pignot - Cronista e Psiquiatra.
É Pedopsiquiatra em Toulouse, França.
Se apaixonou por política e pelo jornalismo nos últimos anos. 
Natural de Surubim-PE


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