REISADOS E GUERREIROS

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José Vieira Passos Filho.


O reisado foi introduzido no Brasil pelos colonizadores, no período do domínio Luso-espanhol. É uma dança folclórica, dramática; encenação com enredo ou pequenos atos.

O Mestre Pedro Teixeira de Vasconcelos, em “Andanças pelo Folclores”, 1998: “Na década de 1920, ... achando os Mestres que o Reisado estava se tornando monótono, resolveram eles criar uma dança mais dinâmica, mais viva. Incorporaram ao Reisado algumas figuras das Caboclinhas, outras da Chegança, umas do Pastoril e inventaram cantos mais animados à base da improvisação, aparecendo então o atual Guerreiro.”

Já em 1931, em dissertação do eminente folclorista José Aloísio Brandão Vilela, no “Álbum do Centenário da Viçosa”, ele faz referência ao folclore viçosense e cita o reisado e o guerreiro como manifestação folclórica dos autos do Natal. Na porta da Matriz o reisado inicia seu canto: “Deus te salve casa santa / Onde Deus fez a morada, / Onde está o Cálice bento, / E a Hóstia consagrada.”

O Reisado era uma dança formada exclusivamente por homens. Em Viçosa, o reisado do Mestre João Felix – conta Jaime Victal -, depois de formado, apresentava-se na Casa-Grande dos engenhos da região. Com o passar dos anos, os chefes de família começaram a permitir que suas filhas fizessem parte do folguedo. Os Mateus, o mestre, o contra-mestre, o rei e os embaixadores permaneceram com os homens. Uma peça bastante cantada nos Reisados da Viçosa homenageia os grandes mestres alagoanos: “Já morreram sete mestres em Alagoas, / Só ficou Honorato e Zé Morais; / Mestre Libânio cegou, / Maria Odilou, casou, / Reisado não dança mais!...”.

Na década de vinte, José Brandão patrocinou um reisado comandado pelo mestre Libânio. Todo sábado, na lagoa (seu engenho), havia ensaio. Maria Odilon, nessa época, ainda era figurante. Entre outras participantes - todas do Bananal -, estavam Lica e Clementina, filhas de Cula e Maria das Neves, neta de seu Miguel da Serra. Os Mateus eram Antônio Carlota, Ladislau e Lolô. Houve a tradicional paramentação e o folguedo se apresentou em vários engenhos da região entre o Natal e o mês de janeiro.

Théo Brandão, em sua publicação “O Guerreiro”, de 1964, escreveu: “Em Viçosa viveu o último grande Reisado, segundo a antiga tradição. O Reisado que viajou como numa despedida para levar bem longe a arte de seus brincantes a S. Paulo para as festividades do IV Centenário, o Reisado de Mestre Luiz Goes, com a sua coreografia brilhante, com os seus cantos harmoniosos, e com seus ˂˂entremeios˃˃ tradicionais. Mas hoje, essa tradição de beleza e arte coreográfica dos velhos Reisados Viçosenses revive no Guerreiro da Boa-Sorte, que une a riqueza e o colorido de seus trages, ao virtuosismo coreográfico de suas bailarinas, e à harmonia de seus cantantes.”

Osório Tavares, do Bananal, foi o Grande Mestre de Reisado que se destacou nas décadas de 1960/1990. Fez várias apresentações fora de Viçosa, pois também ensaiava o Reisado do SESMAC. É dele a peça – hino de louvação à Viçosa: “Ó! Viçosa, do nosso Brasil, / Eu longe de ti / A saudade me mata. / És de prata, cidade formosa, / Teu nome é Viçosa, / princesa das Matas. ˂˂˃˃ Meu reisado, eu vou ensaiar / E posso cantar as pecinhas da Vila. / Façam fila, meninas, cuidado! / Que vai ser gravado pra ir pra Brasília.”

Por: José Vieira Passos Filho - Pres. da Academia Alagoana de Cultura, 
Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, Sócio Efetivo da Academia 
Maceioense de Letras, Sócio Honorário do SOBRAMES (AL), 
Sócio Efetivo da Comissão Alagoana de Folclore.


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