PERALTICES DO VOVÔ

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José Vieira Passos Filho.


É o vovô quem paparica os netos. O vovô, quando jovem, não teve tempo de fazer muitos afagos nos filhos, pois estava mais preocupado em se estabilizar profissionalmente e financeiramente. O tempo passou rápido. Aposentado e vovô, agora passa os dias lendo e escrevendo histórias memorialistas e inverossímeis. Cuida de suas antiguidades, para preservá-las para o futuro, mesmo não crendo que os filhos possam conservá-las. Distrai-se também em atividades que não lhe cansa muito, como criar galinhas e cuidar de uma pequena horta. Porém o que lhe dá mais prazer é estar na companhia dos netos. Quando a família está junta, os filhos, os genros e as noras ficam de “orelha em pé” imaginando o que o vovô está aprontando junto a seus filhos. A história que descrevo adiante foi uma das peraltices do “vovô Zé Celso”. Foram versos que enviou para o genro há uns três anos, no dia do vovô. Seguem em prosa:

O pai ao chegar em casa, encontra os filhos no portão. Estranha esse comportamento, eles segurando as mãos, cabeça baixa, cara de choro. – O que há com meus tesouros? Pergunta o pai aos filhos. Sem encarar o pai, o mais velho, diz assim: - Papai está decidido, ainda hoje me mudo, vou pra casa do vovô, aqui só vivo de castigo. Vovô é meu camarada, deixa-me fazer bagunça, na casa dele posso tudo, aqui eu não posso nada. O vovô escuta a gente, ele sabe muitas coisas, bota a gente no colo e conta histórias de antigamente. Vovô me dá chocolate e confeito, não tomo banho pra dormir, brinco com terra, sujo às mãos, faço tudo que tenho direito. Não tem outra solução, vou pra casa do vovô, desculpem papai e mamãe, também levo meu irmão.

A mãe também ouve a reclamação. Revoltada, mostrando o cinturão, diz - O que? Para onde? Vão pra lugar nenhum, não. Já pro castigo, você e seu irmão! Ela se justifica ao esposo o porquê da punição: - Eles brigam entre si, o maior bate no mais moço. Ela continua a repreensão: - Seus peraltas atrevidos, dois meninos danados, se os coloquei de castigos, foi porque lhes foi devido.

O pai, com os olhos lacrimejando, tenta conter os meninos com um abraço apertado. Juntos, vão entrando em casa. - Filhinhos do coração, tesouros de minha vida, o papai vai sentir saudade, de você e seu irmão. Se a mamãe lhes chama atenção, é porque vocês merecem, vamos para dentro de casa, venham você e seu irmão. O papai também é amigo, brinca de jogar bola, vai à praia, passeia no shopping, só briga quando é merecido. 

A esposa fica nervosa, pensando no que fazer: - Vou falar com o painho, isso não pode mais acontecer. Liga para o pai em tom de reclamação. Conta o que ouve com os dois irmãos. Diz: - O senhor está colocando seus netos a perder...

O pai que ouve atentamente, replica: - filha, isso é natural. E ri da peraltice dos netos. Lembra seu tempo no Bananal dos seus avós: - Meu vovô Neco isso mesmo fazia. Fazia sempre o que o neto queria. Avó, você também vai ser um dia. Filha, entenda seu pai, que hoje é avô. Na minha casa, quem manda são os netos. Seja o Rafa, Filipinho ou Davi. Maria Luiza, Lis, Sofia ou Gabi. Viver repreendendo filho, isso foi no passado. Seus filhos são duas vezes meus filhos. Vovô hoje só entende de afeto.

Salve! Salve! O Dia do Vovô, 26 de julho.

Por: José Vieira Passos Filho - Pres. da Academia Alagoana de Cultura, Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, Sócio Efetivo da Academia Maceioense de Letras, Sócio Honorário do SOBRAMES (AL), Sócio Efetivo da Comissão Alagoana de Folclore. Presidente da ALB de Alagoas




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