UMA GRANDE INTÉRPRETE DO BRASIL

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Drª Virginia Pignot.


Sem papas na língua

Morreu em junho 2024 a economista e professora luso-brasileira Maria da Conceição Tavares. Mulher brilhante de fala franca, ela sempre defendeu que a função essencial da economia é a de ser útil ao povo. Ela trabalhou na criação do BNDE e se propôs com sua língua afiada no programa do Jô, na década de 90, a ser presidente ou membro do conselho monetário do Banco Central dizendo que cometeria menos erros que a cúpula do BC da época. 

“Você bota a raposa, gente que só cuida da elite financeira para cuidar do galinheiro, e perpetua a desigualdade social”, alfineta ela. Como fez Bolsonaro com Guedes, e Guedes com o Presidente do Banco Central Roberto Campos Neto.

Vamos tentar abordar qual foi o seu legado, a sua história, que valores ou herança intelectual ela nos transmite.  

A mão invisível do Mercado

Desenvolvimentista, Maria da Conceição Tavares invoca o Estado para que contemple o Direito publico de regular as coisas e os homens para que eles não sejam destruídos pela mão invisível do mercado.

Vou evocar problemas recentes do capitalismo brasileiro para entender melhor a defesa da importância do estado feita pela professora. O atual presidente do B.C. esta insuflando variáveis econômicas falsas, com ajuda da mídia dos barões, para manter a taxa de juros elevada, que só beneficia aos parasitas do mercado, tirando dinheiro publico para os bolsos de milionários. O modelo extrativista sem limites de mineradoras esta causando afundamento de cidades, como em Maceió, ou catástrofes como a de Brumadinho. A agricultura intensiva esta trazendo lucros enormes  ao agro negocio, mas o desmatamento para criar plantações de soja e para criar gado amplifica e provoca catástrofes climáticas ou não, além de invadir terras indígenas e de dizimar populações. Como dizem os índios quando “o céu cair sobre nossas cabeças”, quando não tiver mais nada, os capitalistas vão perceber que não se come dinheiro. 

Um pouco da sua história

Nasceu em 1930 em Aveiro, Portugal, foi criada em Lisboa onde estudou matemática na Universidade e casou. Chega ao Brasil grávida da sua filha Laura em 1954, fugindo da ditadura de Antônio Salazar, estudou economia e teve mais tarde o seu filho Bruno. Em 1957 adotou a cidadania brasileira. 

Debatedora lucida e contundente em suas análises econômicas e politicas, ela foi professora da Fundação Getúlio Vargas, Unicamp e UFRJ. Participou do governo de Juscelino K., assessorou o governo de Allende no Chile. Foi presa 48hs em condições degradante pela ditadura militar tendo sido solta graças à intervenção do antigo colega que era então ministro da ditadura militar, M.H. Simonsen. Foi deputada pelo PT-RJ em 93, e permaneceu filiada ao PT até sua morte.

“Vocês devem levar a sério a luta de todos nós”

Autora de vários livros de Economia, reconhecida internacionalmente, ela foi chamada de doida maravilhosa por outro professor de renome “she’s crazy, but she’s wonderful”. De doida ela não tem nada, foi uma pessoa coerente e rigorosíssima com os conceitos econômicos, assim como na defesa da utilização de dinheiro publico para criar condições de desenvolvimento para o país, e não para encher o bolso dos parasitas do mercado financeiro. Falando a estudantes, ela os convida a pensar a crise econômica e a busca de soluções coletivamente, para evitar o “salve-se quem puder” do capitalismo selvagem. Participar de um grupo de estudo, de um partido politico pode contribuir para um movimento criativo de construção de propostas, e para uma mudança da posição de vítima à protagonista. E acrescenta: vocês devem levar a sério a luta de todos nós.

Ninguém come PIB

Esta é uma das frases de Maria da Conceição que ‘viralizou’, refletindo que não se deve perder a noção que a economia deve servir a um todo. Pouco antes da sua morte, ela interrogava: “Qual o interesse de se obter balança fiscal, como faz a Argentina agora, se mais da metade da população está passando fome?” Vamos lutar para ter alguém da altura de M. da C. Tavares nas rédeas do B.C.

Por: Drª Virginia Pignot - Cronista e Psiquiatra.
É Pedopsiquiatra em Toulouse, França.
Se apaixonou por política e pelo jornalismo nos últimos anos. 
Natural de Surubim-PE


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