TRIBUTO

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José Vieira Passos Filho.


Ele vem a passos lentos, às vezes hesitante, corpo curvado. Senta-se ao meu lado. Conversamos. Falo um pouco mais alto para ele poder ouvir. A deficiência auditiva é herança de família que vem com a idade avançada. Durante todo o dia e à noite nos encontramos dezenas de vezes. Por vezes somente nós dois. Temos um senadinho para nos reunirmos diariamente. Os participantes são, na sua maioria, pessoas idosas. Meu tio é o mais velho. Conversamos frivolidades, discutimos assuntos relacionados ao povoado, recordamos episódios do passado de nossa família. Imaginamos como será o futuro das novas gerações da família. É uma terapia sem comparação, para mim e meus parentes podermos nos reunir todos os finais de semana. E não é pouca gente, pois já são mais de 30 casas construídas só de parentes. Formamos, diariamente, vários pequenos grupos, das mais variadas idades. Nas casas, que são próximas, na pracinha. A turma do cruzeiro em frente à igrejinha é a mais longeva. 

Tio Dija tem consciência do peso da idade, detalhe que tira de letra. Para ter uma vida melhor, faz Pilates! É muito querido pelas assistentes da academia que o tratam com o maior carinho. Ele gosta disso. Fica envaidecido com a amabilidade das “meninas”, como ele as chama. Não grava seus nomes. 

O mundo de tio Dija é o Bananal. Ali é Soberano! Com razão e por direito. Gaba-se de ter a idade avançada, exatamente como o pai que se foi com quase 95 anos. Vai viver mais que isso. Tomou as devidas precauções para prolongar a longevidade: deixou de fumar há anos; parou de beber; tem uma alimentação sadia; vive no campo, lugar saudável, no meio da família. É conselheiro e conciliador. É respeitado. Seu maior atributo é estar sempre alegre. Também é esperançoso. Deseja o melhor para todos.    

Nunca perde uma oportunidade para contar suas experiências de vida: os muitos causos que viveu no tempo da juventude, quando foi vereador pela Viçosa em cinco legislaturas, dos amigos que sempre teve na política, dos benefícios que levou para o povoado Bananal. Claro que ele, pelo avançado da idade, é repetitivo. Mas sempre ouvimos atentamente esses seus causos – e os que acontecem durante o decorrer de cada semana.  

Tio Dija gosta muito de futebol – foi bom atleta na juventude. Tem paixão pelo jogo de “buraco”. Joga com parceiras um pouco mais novas. Debocha das perdedoras de maneira sutil. 

Adaptou-se ao mundo moderno, tira proveito no que tem de bom. Porém não tem celular e não sabe usar caixa eletrônico, inclusive, perde a senha toda semana. 

Esse é Djalma Leite Pimentel Passos, meu tio Dija. Que está completando 89 anos nesse mês de junho de 2017.  Está vergado, por conta da idade. Eu tenho orgulho de ser seu sobrinho.  Tenho o privilégio de conviver toda semana com ele, no lugarzinho chamado Bananal. O “Bananal dos Meus Avós”.

Que Deus continue protegendo o senhor!  

Por: José Vieira Passos Filho - Pres. da Academia Alagoana de Cultura, Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, Sócio Efetivo da Academia Maceioense de Letras, 
Sócio Honorário do SOBRAMES (AL), Sócio Efetivo da Comissão Alagoana 
de Folclore. Presidente da ALB de Alagoas.


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