A VOLTA DO BOI SURUBIM

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Abordei tempos atrás, neste precioso espaço, a questão da pelagem do boi atacado pela onça na entrada da cidade de Surubim.

A escultura é bastante expressiva. Artisticamente, muito bem feita.

A iniciativa de colocá-la naquele ponto estratégico totalmente elogiável.

Entretanto, como diz um antigo provérbio germânico, o diabo mora nos detalhes. É o detalhe que estraga a obra. Detalhe bobo. Mas fundamental: a pelagem do boi.

Toda criança surubinense aprende que o nome da cidade veio de um boi pintado. Que morreu, provavelmente em época de estiagem, atolado numa lagoa, existente no lugar onde hoje fica a casa paroquial.

E depois sofreu ataque de predadores, de modo que foi encontrado em estado lamentável, difícil de passar por uma perícia para determinar a causa mortis. O perito foi o vaqueiro que encontrou o touro morto, animal famoso exatamente pela pelagem. Que tratou de espalhar ter o Surubim sido devorado por uma onça. Pintada, naturalmente.

A pelagem Surubim era caracterizada por animais de cor medianamente escura adornados, nas partes baixas, principalmente a barbela e setores da barriga, por pequenas pintas.

O peixe brasileiríssimo que no Centro-Oeste leva o nome de pintado, no Sertão do São Francisco, onde também é encontrado, chama-se surubim. Daí o nome do boi. Oi vice-versa. Quem nasceu primeiro, o nome do peixe ou do boi? É questão para jamais ser resolvida. Então, vamos resolver o que podemos, em respeito à nossa história. Vamos repor a pelagem do boi. Porque isso é inquestionável.

Já houve essa oportunidade, quando a escultura, vítima de lamentável ato de vandalismo, foi refeita. As críticas foram ouvidas, tanto que o boi, antes lavrado como um boi holandês, passou a ter a pelagem cheia de grossas pintas. Queriam um boi pintado? Tomem um boi pintado. Só que continua não sendo um Surubim.

Caso ninguém adote as devidas providências, as futuras gerações vão acabar achando que o boi era daquele jeito mesmo. E assim se perde o registro pictográfico da origem do nome da cidade.

Fiz esse comentário na memorável sessão da Academia Pernambucana de Letras, onde Fernando Guerra discorreu com raro brilhantismo sobre a história das vaquejadas de Surubim.

No filme da vaquejada de 1949, cuja exibição emocionou a todos os presentes, aparecem ainda várias redes de pelagem surubim sendo derrubadas. Este ano, se apareceu alguma, foi raridade.

A prefeita Ana Célia estava presente. Dirigi a ela o meu apelo. Vamos repintar o boi na sua pelagem original. Não disse que sim nem que não. Aliás, a resposta não cabia naquele momento.

PS. Depois desse artigo muita gente talvez pense: ”Que sujeito maluco, se preocupar com a cor de um boi com tantos problemas no mundo para resolver.”

Estarão certos sobre a sanidade.

E muito errados quanto à irrelevância da cor do boi.

Se não cuidarmos das nossas raízes, da nossa identidade mais profunda, quem vai cuidar para as próximas gerações?


Por: José Nivaldo Junior - Publicitário. Historiador. Da Academia Pernambucana de Letras.


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