A MELHOR ESCOLHA DE NATAL

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Maria Teresa Freire.

 

Apaixonei-me. Inocente como era, não vi defeitos no homem ao meu lado. Uma mocinha de 18 anos com sonhos em ser uma atriz famosa, ficou extremamente encantada em ter um empresário charmoso, bonito, bem sucedido, dizer que estava enamorado dela. Achava eu que era exagero dele. Ele poderia ter a mulher que quisesse: linda, sofisticada, rica, elegante, enfim com muito mais adjetivos qualificativos do que eu. Essa era a minha opinião. Entretanto, não a dele e de outras pessoas, principalmente de outros homens. Todos eram unânimes em dizer que eu era linda. 

Como Vitor (o empresário) era herdeiro de um importante Grupo Empresarial, portanto rico e bem relacionado, ele tinha uma vida agitadíssima desde a atividade profissional até os compromissos sociais. Era convidado para uma variedade de eventos sociais, de todos os tipos. Sua presença atraia a mídia. As mulheres gostavam de serem fotografadas ao seu lado por exibicionismo no caso de algumas ou para terem algum destaque e serem contratadas como atrizes, modelos, assim por diante. Vítor aceitava a bajulação. Afinal, que homem não gostaria de ter mulheres lindas se jogando em seus braços? Todavia, ele não se relacionava com nenhuma. Elas eram como bonecas de luxo. Brincava um pouco e depois deixava de lado. Entendia que todas elas, ou pelo menos a maioria, queriam usufruir do seu dinheiro, de sua posição social, do seu status. 

Por isso eu não entendia seu grande interesse por mim. Seria a minha juventude? A minha inocência? A minha falta de ambição desmedida para me converter em alguém famoso? O meu sincero amor por ele?  O interesse de Vítor por mim foi crescendo. Ele queria minha companhia todos os dias. Na realidade, ele não me deixava por um minuto. Eu o acompanhava em quase todos os lugares em que ia. Exceto nas suas reuniões de negócios. As festas em que eu participava junto eram estrondosas. As pessoas importantes do jet set internacional estavam presentes. Principalmente, da área cinematográfica. Apresentava-me aos diretores de cinema. Dizia-me que cuidaria da minha carreira de atriz e que eu teria portas abertas para trabalhar. Pagou-me alguns cursos de interpretação e eu comecei a ser chamada para realizar papéis secundários em novelas, series e em alguns filmes. 

Minha carreira começou a ‘decolar’. A minha popularidade cresceu. Não somente por causa dos filmes e séries em que eu atuava, mas também por conta dos anúncios publicitários sobre moda, estética, atividades físicas e gastronomia. Na televisão e em outdoors. Era um rostinho popular e aonde eu ia todos me reconheciam. Todavia, eu almejava muito mais: o papel principal; a heroína; a vilã. Enfim, uma atuação de destaque que me deixaria famosa e com tantas ofertas para eu escolher a que quisesse. 

Entretanto, a minha fama era forjada. Primeiro, porque tinha como ‘acompanhante’ a presença constante de um empresário rico, famoso, bonito e extremamente bem relacionado. Segundo porque eu era um rostinho lindo com um corpinho perfeito. O marketing me fez conhecida, portanto popular. A mídia me acossava, pois o público queria saber tudo sobre a minha vida.  As notícias eram sensacionalistas. As festas eram espetaculares, regadas a espumante (champagne original, ou seja, o francês), plenas de celebridades, homens riquíssimos e mulheres elegantíssimas. Todavia as drogas também faziam parte. Eu não consumia, mas como estava presente nas festas, todos entendiam que eu era viciada. A polícia vigiava essas movimentações estrondosas em que havia venda e consumo de drogas em alta escala. 

Em uma dessas ocasiões, por denúncia com imagens de algum convidado (ou infiltrado), a polícia deu uma batida e fomos presos. Entretanto, com a influência e o dinheiro de Vítor fomos liberados. Para evitar que o escândalo fosse alimentado, ele sumiu de cena. Foi para os EUA, comandar as filiais dos negócios da família. Eu fiquei, sem penalidade, pois foi comprovado, por vários exames, que eu não consumia drogas ilícitas. Obviamente, minha carreira declinou. 

Como eu não era considerada uma excelente atriz e sem a presença marcante do Vítor, ficou difícil conseguir bons papéis. Sobrevivia com pequenas pontas em filmes de menor importância. Fortuitamente, o dinheiro não era problema, pois Vítor havia criado um fundo de investimento que me assegurava uma boa renda. Não posso ser injusta: ele me deixou financeiramente amparada, mas emocionalmente desamparada. 

Até que surgiu uma oportunidade de fazer um papel importante, interpretando uma advogada. Como eu havia cursado Direito eu poderia ter alguma chance. Só não fizera o exame da Ordem dos Advogados. Fazia alguns anos que eu me graduara, então fui buscar estágio em um escritório de advocacia com a ajuda do meu agente. Um amigo dele advogado, com um escritório em expansão deu-me a oportunidade. Isso facilitou a minha entrada no escritório. A justificativa era para eu me preparar para o exame da Ordem. Fui contratada como secretária de um dos advogados do Escritório. Leonardo, como se chamava, era o mais famoso, tinha muitos casos, mas gostava de trabalhar sozinho. Também devo acrescentar (para entendimento da minha repentina dedicação ao estudo do Direito) que ele era alto, elegante e bonito. Será que isso ajudava para a escolha das clientes? Não!   Ou será que era?  Não!  Ele era muito inteligente, competente, dedicado e perspicaz, qualidades determinantes para um advogado. 

Este advogado atraente teve uma implicância inicial comigo. Ai, ai que raiva, pois eu tive uma atração inicial por ele! Eu estava acostumada a ser mimada e elogiada. Ele não estava acostumado a mimar e a elogiar uma atriz que pretendia aprender na prática como era o trabalho de um advogado. Todavia, eu não desisti. Empenhei-me em mostrar a ele que eu podia aprender rápido e que faria o meu melhor. 

Com isso ele foi reconhecendo meu empenho e reconhecendo minha capacidade e me dando cada vez mais tarefas importantes. Fui me inteirando dos casos, realizando o trabalho pertinente a uma secretária competente. Também me empenhei em ler e estudar sobre Direito para me atualizar sobre leis, casos e jurisprudências. Meu desempenho foi se aprimorando, resultando em melhor relacionamento com meu chefe. 

A convivência foi nos aproximando, permitindo que nos entendêssemos cada vez melhor, um pouco mais do que o trabalho exigia. A impressão inicial que ele teve de mim como uma atriz supérflua havia se modificado. Ao trabalhar com seriedade e responsabilidade eu mudei a opinião dele em relação a mim. E a minha em relação a ele. Não era mais aquele advogado sisudo, antipático, que não apreciava a ajuda de ninguém. Conversávamos, fazíamos refeições juntos frequentemente. Uma nova relação foi se formando. Acima de tudo eu o admirava. Era, sem dúvida, excelente advogado. As suas defesas eram perfeitas. A fala consistente, a citação firme das leis, os argumentos bem elaborados, além da voz sonora, porém suave que prendia a atenção de todos. Isso tudo me foi apaixonante. Eu fui me apaixonando por aquele homem tão firme no tribunal e ao mesmo tempo tão gentil, em outras situações.

Realmente, nossa relação foi se transformando. Havia, implicitamente, uma vontade de ficarmos juntos o maior tempo possível. Havia uma química inegável que nos conectava. Almoço juntos, jantar juntos, estudo juntos. Até que surgiu o primeiro abraço, o primeiro beijo. Os primeiros de muitos que se seguiram. Intensos, apaixonados. Envoltos em uma paixão ardente que quanto mais nos amávamos, mais queríamos ficar enrodilhados, abraçados, entrelaçados. Amando-nos! 

Passamos a namorar, obviamente. Escondido, pois eu era uma figura pública e logo apareceriam os comentários, os boatos. Uma noite, saímos de um restaurante e estávamos indo para minha casa quando percebemos um carro nos seguindo. Leonardo ficou apreensivo. O carro deu-nos uma ‘fechada’ e nos fez parar. A maior surpresa para mim: era Vitor!  Os dois saíram do carro e se confrontaram. Leonardo deixou claro a ele que estávamos namorando seriamente, com planos para o futuro. 

Obviamente, Vitor comentou com algumas pessoas do set cinematográfico e a noticia se espalhou. Leonardo lamentou o acontecido por ter me exposto. Eu não! Dias depois recebo a tão sonhada proposta para encenar a protagonista de uma série a ser lançada; eu seria a advogada principal de um escritório famoso. Leonardo, para me proteger, queria terminar o namoro, queria que nos afastássemos. Foram dias tensos para nós dois. Com amor verdadeiro e intenso um pelo outro, como poderíamos tomar tal atitude? Não permiti tal absurdo. Nós poderíamos começar a ser vistos juntos em rápidas aparições. Como as filmagens se iniciaram, às vezes ele me deixava no set, outras ele me apanhava. Uma vez ou outra almoçávamos perto do estúdio propositalmente. Na primeira aparição, as pessoas perguntaram quem era. “Um amigo”, eu respondi. A companhia dele começou a ser vista como normal.

Como estávamos no final do ano, a Produtora resolveu fazer uma estrondosa festa de Natal e lançar a série que começaria na televisão no ano seguinte. Leonardo propôs que fossemos ao evento em separado para que não divulgássemos o nosso namoro. De forma alguma!

No dia do Evento, em que eu seria o foco das atenções, entramos de braços dados, ele em um smoking elegantíssimo e eu em um esplêndido vestido longo, rosa bem claro, todo bordado em pequeninos cristais. Foi uma sensação!  As fotos espocavam de todos os lados. Os amigos do Escritório de advocacia aplaudiam entusiasmadamente. Todos aplaudiam o casal do momento! 

A vida é mesmo uma incógnita! Quando pensamos que nosso caminhar está traçado, uma situação totalmente diferente nos surpreende. Eu nunca imaginaria que, ao entrar naquele escritório e começar a trabalhar com um advogado implacável na sua atuação durante os julgamentos, eu encontraria o amor da minha vida e seria conduzida para a felicidade! 

Foi a minha melhor escolha de Natal, não concordam queridos leitores?

Por: Maria Teresa Freire - Jornalista, Escritora, Poeta, 
Presidente da AJEB – Coordenadoria do Paraná.



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