UM FILHO NOS FOI DADO: O PLANO DIVINO DE RESGATE DA HUMANIDADE ATRAVÉS DA FAMÍLIA ¹

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José Francisco dos Santos.


 Após contemplar sua criação, Deus viu que tudo era bom, mas queria ainda, neste mundo, alguém com quem pudesse se relacionar com Ele mais diretamente. Queria uma criatura que fosse mais que criatura. Queria alguém com quem pudesse ter realmente uma relação pessoal, que pudesse compreendê-lo como Pai e Criador e fosse capaz de amar. Que aderisse à sua lei não no modo automático e natural, como os demais seres naturais criados, mas que o fizesse de livre e espontânea vontade, com consciência do que estivesse fazendo.

Assim, no 6º dia Ele criou o homem e a mulher, participantes do seu poder criador, no ato de gerar os filhos, mas também para que reproduzissem, na família humana, o amor e o cuidado do Pai para com todos os seres criados. Ao gerar e cuidar dos filhos, com o amor que leva ao sacrifício de si, homem e mulher, na família humana, reproduzem a atividade amorosa da Trindade Santa.

E Deus viu que era muito bom.

Mas para poder se relacionar com Deus do modo elevado como estava no plano do Criador, a liberdade era um dado fundamental, pois racionalidade e liberdade são potências indissociáveis.

Livre, o ser humano foi seduzido pelo pai de toda a mentira e de todo o relativismo, convencido de que, seguindo suas próprias tendências, desvinculadas da vontade de Deus e de sua lei eterna, seria ele também uma espécie de divindade.O resultado foi todo o desastre de uma humanidade pecadora, que se submeteu à escravidão de seus próprios caprichos, comprometendo o plano original de Deus.

Mas a misericórdia do Criador se voltou para seus filhos desgarrados, e Ele nos amou de modo admirável, quando estávamos perdidos e incapazes de encontrá-lo.

O plano de Deus para nossa salvação passou, novamente, pela família humana. O Filho Eterno se dignou assumir nossa humanidade, no seio da Virgem Maria e aos cuidados do carpinteiro de Nazaré, para que pudesse, como o humano perfeito, ser a vítima expiatória definitiva, que nos reconcilia com Deus.

Assim, a família humana foi resgatada e foi também instrumento do nosso resgate.

Igualmente hoje, quando nos vemos imersos em decadência nunca vista, numa civilização que se suicida ao negar sua própria essência, a família é o lugar no qual podemos novamente nos encontrar com nossa verdadeira essência.

Uma frase, cujo autor desconheço, diz que a decisão de ter um filho é muito séria, significa ter para sempre o coração fora do corpo. Isso é patente quando se fica ao lado de um filho, esperando com agonia que uma febre baixe, ou fingindo que se dorme, na espera angustiante do retorno do filho ou da filha que saiu para uma festa ou para a balada, mas também nos inúmeros momentos de alegria que essa convivência proporciona. Quis a natureza, e em boa parte também a cultura, que a maternidade e a paternidade humanas estivessem envoltas nesse manto de alegrias e sofrimentos. O ato de dar a vida, enquanto procriação biológica, desdobra-se de modo misterioso na capacidade de dar a vida no sentido mais pleno, de doação completa, de sacrifício sem medida. O amor em relação a um filho é, de fato, diferente de todo amor ou todo sentimento excelente que possamos ter em outro âmbito. É aquilo que mais naturalmente se aproxima do sentido do amor enquanto “Ágape”, a palavra grega que expressa o que traduzimos na frase “Deus é Amor”. 

Essa proximidade do Natal nos inspira o tema acerca de filiação e paternidade/maternidade, mas também é ocasião para refletir sobre como a família tem se desviado do propósito divino. As estatísticas mostram que a imensa maioria dos abusos cometidos contra crianças e adolescentes se dá no interior da própria família. Muitos pais e mães estão abdicando do seu papel de orientação moral dos filhos, preferindo acomodá-los e acomodarem-se nessa cultura permissiva, que dissipa nossa verdadeira humanidade em prazeres e facilidades que nos mantêm embrutecidos. 

Como as tartarugas marinhas que desovam e correm para o mar, nossas crianças e jovens estão às voltas com toda sorte de abutres, que desejam destruir sua pureza e enfraquecer sua alma. Essa é uma realidade para angustiar e deixar ainda mais vigilante esse coração de pai e mãe, que reside fora do corpo. 

O complexo processo de desenvolvimento do ser humano, sobretudo na nossa cultura, nos dá uma infância longa e um conturbado processo de maturação psicológica e afetiva, sempre desafiado por inúmeros fatores. Não é nada fácil a tarefa de quem tem a responsabilidade de acompanhar tal processo, cuidando para que nenhum tipo de predador venha roubar o direito de cada criança e jovem a um desenvolvimento sadio, a uma mente lúcida e um coração equilibrado. 

Isso já foi, ao menos aparentemente, mais fácil no passado, mas cada época tem seus próprios problemas e desafios. 

Nossos pais e avós certamente enfrentaram problemas econômicos maiores, desfrutaram de menos conforto e comodidade, mas os predadores eram em menor número e mais previsíveis: a mortalidade infantil, a falta de recursos médicos, uma ou outra carência de vitaminas. 

No nosso mundo povoado por drogas, violência e decadência travestida de arte, parece haver mais razão para se estar apreensivo.

Mas o nascimento de uma criança jamais vai deixar de ser sinal de que renovamos nossa razão de viver. Através dela, seremos desafiados e nossa vida nunca mais será a mesma, mas certamente não saberíamos mais viver como antes. Vale lembrar que quanto maior o desafio, mais ele nos aprimora, pois criamos novas capacidades.

Que esta época nos leve a reconsiderar nossa condição de pais e de filhos. Que os filhos reconheçam pelo menos uma parte dessa imensidão de amor e entendam - para além das proibições e chatices inerentes ao ofício de ser pai e mãe - o quanto é difícil ser responsável por alguém que se ama tanto, com todas as limitações humanas. 

Quando cuidam bem de si mesmos, os filhos estão cuidando também do coração dos pais. Se você, filho, por alguma razão, anda desconectado de seu pai ou sua mãe, tente refazer a conexão. Dê-lhe a chance de ter novamente próximo a si o próprio coração. Como nada sabemos do amanhã, é preciso mesmo amar as pessoas como se ele não existisse.

E que todos nós nos lembremos, para além das nossas relações humanas imediatas, que estamos aqui de passagem, pois Aquele que nos criou e nos resgatou, reserva para nós um destino eterno a seu lado.

Por: José Francisco dos Santos - José Francisco Dos Santos – Prof. Zezinho, consultor do GRUPIA. Graduado em Filosofia pela UNIFEBE, Especialista em Fundamentos da Educação pela FURB, Mestre e Doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor do Centro Universitário de Brusque – UNIFEBE,
Faculdade São Luiz e Faculdade Sinergia.



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