Preparação ao Terceiro Mandato

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DRª Virginia Pignot.


 I Introdução: “Dinheiro, pra que dinheiro?”

“Se eu estou inseguro, se não tenho carteira de trabalho, se não sei como vai ser minha aposentadoria, eu não vou gastar, não tem consumo.” L.Nassif.

O presidente eleito do Brasil para um terceiro mandato fez um discurso pacificador, agradecendo a quem votou por ele, e a quem votou pelo seu adversário, pelo cumprimento do dever cívico. Ele afirma que vai governar para todos.

Vários grupos começaram a trabalhar, a questão de uma PEC da transição é evocada, que permitirá garantir o orçamento necessário ao novo governo para cumprir uma promessa de campanha de ambos os candidatos, a de manter o auxílio social para aqueles que estão sem renda, além de outros objetivos.

A PEC despertou reações positivas, essencialmente na mídia independente, e negativas, essencialmente na mídia corporativa, constituindo talvez o primeiro desafio do futuro governo. Vamos nos interessar pelo assunto e procurar entender as razoes deste nó, para não sermos “gado”. Antes de detalhá-las abaixo, chamo a atenção para uma primeira diferença nas duas argumentações. A primeira chama as despesas públicas com o cuidar do povo, com o desenvolvimento do país de “Investimentos”, a segunda chama essas mesmas despesas de “Gastos”. Essa diferença de nominação não é à toa. O conceituado jornalista Luis  Nassif deplora o baixo nível do jornalismo econômico na mídia corporativa, que acaba nos desinformando: “Eles só ouvem os operadores ou economistas empregados pelas instituições financeiras.”

Ao meu ver:

-A argumentação favorável à PEC da equipe de transição defende a presença do Estado forte, que faz investimentos públicos onerosos, mas que dão retorno criando emprego, consumo, bem-estar, riquezas. Um Estado atuante na vida das pessoas, na soberania e economia do país.

-A argumentação que critica e quer inibir os gastos públicos, aplicada no governo Bolsonaro, aceita a presença de um Estado fraco, no qual o Executivo delega o poder, e corta gastos essenciais, mas continua a pagar juros abusivos (como veremos abaixo) da dívida pública aos bancos. Esperando que o artigo traga elementos esclarecedores sobre o assunto para que cada leitor e leitora possa formar sua própria opinião cidadã, boa leitura.

II A quem serve a politica econômica, e a quem deve servir.

Desmontaram o Estado, reduziram a segurança trabalhista, fizeram reforma da previdência penalizando o futuro aposentado. Fizeram tudo isso dizendo que era para melhorar a economia, mas a Ford foi embora do Brasil porque não tem comprador, o desemprego subiu, o Brasil voltou ao mapa da fome, reduziram o orçamento para saúde e educação...Inspirado numa fala de L. Nassif sobre os efeitos da politica econômica nos seis últimos anos.

A democracia é o governo do povo, os representantes eleitos devem cuidar dos interesses do povo, mas no Brasil e em parte dos países do mundo, o mercado financeiro controla a mídia e a opinião pública, influenciando escolhas politicas, colocando a defesa dos seus interesses em primeiro lugar.

Por exemplo, quando Dilma quis reduzir a taxa de juros para arrumar a economia no momento da baixa de preço internacional do petróleo, ou quando os governos petistas descobriram o pré sal e decidiram que a riqueza do petróleo e derivados serviria para financiar nosso desenvolvimento, Dilma e a Nação sofreram um golpe. No seu lugar colocaram vassalos que delegam os poderes do executivo ao mercado, à Câmara. Um dos primeiros atos do governo Temer foi enviar Meireles aos EUA e quebrar a lei da partilha, para grande agrado e lucro das companhias petrolíferas americanas.

Agora com os primeiros passos da equipe de transição, este conflito está exposto de novo, entre um Estado forte que usa o dinheiro publico para o desenvolvimento da Nação, e um Estado fraco, que é eleito pelo povo mas que não governa para ele.

A) Argumentos em favor da proposta da PEC, presentes essencialmente na mídia independente:

- Com a PEC e com o aumento de investimentos públicos em politicas sociais, na saúde, com a retomada das obras paradas na construção civil, haverá criação de empregos, aumento do consumo e um relance rápido da economia. Já aconteceu, a taxa de desocupação em dez. 2014, era de 4,3%

B)Argumentos contrários, presentes essencialmente na mídia corporativa:

- Com o aumento dos gastos públicos os dólares vão sair do Brasil; sem respeito aos mecanismos de controle, às metas a inflação vai voltar, dizem eles. Mas o governo FHC que seguiu à risca as recomendações do mercado deixou no término do seu segundo mandato o país quebrado.

C) Quais seriam as razoes de reações negativas, ao anúncio deste projeto?

“Uma recuperação muito rápida da economia vai fortalecer politicamente o novo governo, dando condições a este de afrontar os órgãos do mercado”, afirma L.Nassif

III) Governo democrático versus ditadura do mercado

A) Os vícios do mercado

Como um dependente no uso de drogas, o mercado financeiro é ávido em lucros; apesar do efeito devastador deste vício para a economia do país.

Nassif nos explica os vícios do mercado:

1-Remuneração da sobra de caixa dos bancos pelo banco Central.

Se trata de um vício que aumenta artificialmente e sem razão, a dívida pública. A revogação desta medida trará de volta trilhão aos cofres públicos, reduzindo instantaneamente a dívida pública.

2- Taxas de juro altas.

Nassif explica que quando a demanda, o consumo está baixo, manter taxas de juros elevadas é um suicídio econômico, que só favorece especuladores. Aqui derrubaram Dilma para manter esse vício.

3- Mudanças arbitrarias da taxa de câmbio

Segundo Nassif, o salário e a previsibilidade da taxa do câmbio são os fatores mais importantes para a economia. Uma multinacional só vem se instalar e criar empregos no Brasil se as pessoas têm salário para comprar o que eles produzem, e se há estabilidade e previsibilidade do câmbio.

“Aqui usam o câmbio instável, que contribui em 90% para a inflação brasileira, para beneficiar o capital improdutivo que não cria emprego nem gera dividendos ao país.” Nassif

Curar o Brasil destes vícios do mercado, vai requerer muito tato do futuro Ministro da Fazenda.

IV Conclusão

Na crise de 2008, foi fazendo a “receita” oposta a do mercado, que o governo Lula conseguiu fazer que a crise aqui fosse “uma marolinha”. Podemos fazer bem e melhor.

Tendo lucros exorbitantes no Brasil o tal mercado quer controlar sem a legitimidade das urnas as rédeas do poder politico; mesmo que seja para salvar vidas, não quer perder nem migalhas, participando assim a uma necro politica, uma politica da morte.

Será, como afirmou Otávio Guedes em um debate na Globo News, que o Mercado financeiro é bolsonarista? Alias, parece que ele ‘sumiu’ da Globo News depois que afirmou isso.

Além da capacidade já posta em ação para trabalhar e cuidar do povo o novo futuro governo tem trunfos preciosos: tendo saldado a divida ao FMI no passado, não temos aqui, como na Argentina, a divida em dólares; a reserva bilionária em dólares acumulada durante os governos petistas anteriores; a possibilidade de imprimir moeda como faz os EUA, e esperemos, força politica e apoio popular para conduzir o projeto eleito pelo povo de desenvolvimento com inclusão social. Obrigada pela atenção, e até a próxima.

Bibliografia/Fontes

O Desafio de Desmilitarizar o Governo. Nassif e convidados, Jornal GGN, 20 hs. 18-11-2022.

O Mercado é Bolsonarista? Nassif e Conde, Afinando a Noticia, TV GGN, 25-11-2022.

Em dezembro, taxa de desocupação fica em 4,3% Editoria:Estatísticas Econômicas, 29-01-2015 Agência de Noticias IBGE.

Por: DRª Virginia Pignot - Cronista e Psiquiatra.
É Pedopsiquiatra em Toulouse, França.
Se apaixonou por política e pelo jornalismo nos últimos anos. 
Natural de Surubim-PE.
Correspondente da França.


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