FELICIDADE ROUBADA

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Maria Teresa Freire.


Existem fatos que acreditamos nunca acontecerão conosco. Isso era o que eu pensava. Meu casamento era feliz. Estávamos construindo nossas vidas. Casamo-nos apaixonados. Depois de namorarmos cerca de um ano, resolvemos morar juntos. Trabalhávamos na mesma empresa. Mas, não contávamos sobre os aspectos pessoais de nossas vidas para evitar brincadeiras inadequadas dos colegas. Até que resolvemos casar, pois queríamos formar uma família. Não sei se as pessoas, atualmente, se importam se as crianças têm pai e mãe casados no civil. Talvez no religioso, dependendo da Igreja que frequentam. Mas, nós preferimos assim. 

No trabalho, o marido era meu chefe. Entretanto, não havia interferência no nosso desempenho. Tínhamos um entendimento muito bom tanto na vida pessoal como na profissional. Até que recebo uma mensagem no celular, tarde da noite: “a amante do seu marido trabalha com você”. Primeiro, achei que fosse um trote. Depois uma brincadeira. Por fim fiquei encucada com aquilo. Passei a observar as colegas de trabalho com mais atenção. Com o tempo a mensagem perdeu influência na minha mente. Todos continuavam me tratando do mesmo jeito, inclusive o marido. 

Semanas depois, recebo outra mensagem com o mesmo teor. A preocupação retornou. Passei a desconfiar de todos. Inclusive, do marido. Como ele é reservado e sério, não consigo ter uma conversa com ele mais aberta, franca. Diminuí o nosso relacionamento íntimo, ou perdi o tesão, para ser explícita. As saídas para jantar, almoçar, ir a shows, enfim nossos divertimentos também estavam menos frequentes. 

Um dia, depois do trabalho resolvi segui-lo. Vi-o no saguão de um hotel (5 estrelas) se despedindo de uma mulher, jovem e bonita. Mas deselegante. Diferente de mim. Eu sou um pouco mais velha, bonita (como todos dizem) e muito elegante. Deixei que a mulher se fosse e postei-me diante dele. Ele, surpreso, não soube como agir. Perguntei, simplesmente: “é ela?”  Ele hesitou em responder: “já acabou”. Eu fico abalada ao ouvir essa resposta. Ele, realmente, tinha um caso. Esse foi o único fato que preencheu quase toda a minha mente, durante alguns dias. 

Ele tentou me convencer que não havia mais nada entre eles. Eu estava muito abalada. Nunca imaginei uma situação como essa na minha perfeita vida de casada. Perfeita?

Todavia, a mulher continuava a procurá-lo. Trabalhava na mesma empresa, em outro departamento. Na Contabilidade. De vez em quando ia ao nosso departamento para pegar ou entregar algum documento, saber alguma informação necessária para eles fazerem relatórios e outros papéis. Era meio sem graça. Ninguém prestava muita atenção nela. Uma colega bem amiga, foi investigar sobre a moça. Morava sozinha. Na ficha do RH constava pais e um irmão falecidos. Somente uma tia como família. Quando ela ia ao nosso departamento, pedia ajuda a ele sobre várias questões e ele, solícito, explicava com bastante paciência. Creio que esse relacionamento, inicialmente como ajuda no trabalho, passou a ser ajuda na vida dela. E assim foi criando dependência dele. 

Em casa, já estávamos separados. Entretanto, ele continuava negando qualquer ligação com ela e tentando salvar nosso casamento. Para mim estava difícil. E ficou muito pior, quando ela foi até o escritório dele e ele pediu que ela fosse embora. Ela reagiu mal. Começou a chorar, dizendo que não podia vive sem ele. Foi uma situação terrivelmente constrangedora! Eu cheguei a passar mal com aquela cena.

No dia seguinte, conversei com um amigo meu advogado e pedi para providenciar o meu pedido de divórcio. Para extravasar todo aquele estresse, eu saia de moto. Meu irmão tem um grupo de motociclistas que saem a passear todo final de semana e às vezes algumas noites durante a semana. Voltei a frequentar mais assiduamente o grupo. Era uma boa maneira de me afastar da casa e de manter o equilíbrio emocional. Meu irmão, um amigão, me apoiou o tempo todo. Seus amigos também. E tinha alguns membros que haviam querido namorar comigo. Acho que havia um ou outro que ainda me via dessa maneira. Com o divórcio, uma boa oportunidade de se aproximarem de mim. Nesse momento, isso não era o mais importante. 

Ele tentou me dissuadir do divórcio, mas não havia mais ‘clima’ para convivermos. A mulher ainda insistia. Eu não poderia suportar aquilo e muito menos perdoá-lo. Não tínhamos queixas do nosso casamento. Ainda pensávamos em ter filhos. E usufruíamos um da companhia do outro. Não conseguia entender como ele se deixou envolver dessa maneira. Então, o casamento não estava tão bom assim para ele e, talvez, eu não o atraísse tanto. Deveria ser um bom ator, pois tínhamos um relacionamento sexual bem ardente. Qual a razão, portanto, para se envolver com essa mulher? Eu não pretendia ficar imaginando as razões e ser infeliz para o resto da vida. Nunca mais teria total confiança nele. 

Entretanto, como ainda estávamos morando no nosso apartamento, ele pede para conversar comigo. A mulher havia pedido demissão do trabalho e ido morar com a tia, em outra cidade. Tarde demais. Roubo-nos a felicidade. Ele não gostaria que nos divorciássemos brigados. Afinal, tínhamos nos amado e convivido felizes. Ele estragou tudo, ao deixar-se envolver por uma mulher fragilizada que precisava desesperadamente de companhia masculina. O primeiro que se comoveu com sua debilidade, ela segurou de todas as formas. E foi logo o meu marido. 

Saí do apartamento, pois venderíamos o imóvel. Fui para a casa do meu irmão, onde sou sempre bem recebida pela minha cunhada e sobrinhos pequenos. Depois eu resolveria onde morar. Precisava me recompor e seguir com a vida. Ele pediu transferência para outa filial da empresa. Assumi a gerência no lugar dele. Ironias da vida. 

Quando assinamos os papéis do divórcio, fomos almoçar juntos, sem ódio ou raiva. Um infortúnio que atravessou nosso caminho. Despedimo-nos e cada um seguiu seu caminho. Diferente. Separados. Foi uma experiência feliz e dolorida no final para os dois. A vida continua, com outros vieses e oportunidades. 

Por: Maria Teresa Freire - Jornalista, Escritora, Poeta, 
Presidente da AJEB – Coordenadoria do Paraná.
Presidente da ALB - Paraná.



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