O MOSQUITEIRO DE TITIA

0 Comments
Malude Maciel.


Pra quem não sabe o que é “mosquiteiro”, digo que é um tipo de cortinado feito num tecido leve, transparente e respirável: filó. Talvez não se use mais atualmente, porém, houve um tempo em que cada casa de família tinha todos os leitos protegidos contra os mosquitos e muriçocas, com o cortinado, que poderia ser de diversos modelos e cores.

Em Caruaru, naquela época, ninguém dispensava o uso de mosquiteiros porque as muriçocas faziam a festa na cidade. Era uma coisa assombrosa. Até pra ver televisão era um sofrimento com aqueles insetos incomodando o tempo todo. Imagine para dormir à noite. Só os mosquiteiros ajudavam a ter um sono tranquilo.

Dependendo do bom gosto os mosquiteiros eram enfeitados com bicos e rendas; os dos bebês sempre foram os mais bonitos e caprichados confeccionados em tule com detalhes diversificados.

Minha tia, Louzinha, irmã de mamãe, tinha o mosquiteiro mais bonito que já vi. Ficava no quarto do casal e, durante o dia, permanecia elevado num canto do dormitório, suspenso e amarrado com um laço de fita cor-de-rosa, de cetim. Um charme!

Eu, como filha única até oito anos, todas as tardes estava com meus primos nas brincadeiras infantis. Uma delas era o “esconde-esconde”, dentro de casa. Sem dúvidas o melhor esconderijo que arranjei foi o mosquiteiro de titia. Um lugar ideal onde eu ficava escondida, coberta pelo tecido do mosquiteiro e, com aquele laço pendente, ninguém ousava mexer naquele lugar. Era legal!

Uma vez, num carnaval, estávamos olhando o movimento carnavalesco das janelas e porta da casa de titia, na rua José Mariano, 38; lugar ideal para olhar as troças que passavam e desciam da rua Júlio de Melo, onde ainda hoje existe o Grupo Escolar Prof. Vicente Monteiro, onde estudei o curso primário.

A turma toda da criançada, ali, na calçada, tendo Maria como vigilante. Tudo muito natural, até que apareceu uma La Ursa descendo a ladeira. Era um bloco com fantasia de urso branco, tão perfeita que impressionava, além dos acompanhantes, tocando, dançando e pedindo dinheiro. Chegaram bem perto da gente querendo uns trocados e ficamos com medo das figuras sujas, suadas, cheirando à cachaça, num dia quente de sol e naquele ritmo alvoroçado, dava pra tremer mesmo. Maria entrou, tentando arranjar umas moedas para que eles fossem embora, mas foi pior; a La Ursa, com seus acompanhantes foram adentrando na sala de visitas da casa de titia. Cada criança corria aleatoriamente, gritando e chorando; cada um por si.

Não tive dúvidas, fui ligeirinha para o quarto, onde tinha o mosquiteiro, meu esconderijo favorito.

Apareceram os adultos que estavam lá por dentro e controlaram a situação, mas ainda se escutava a choradeira dos menores. Depois que os carnavalescos foram embora houve a busca de um por um. Fui a última que foi encontrada, pois eu não saía do meu refúgio, de jeito nenhum. Apenas quando tudo serenou, dei as caras desconfiada.

Bendito mosquiteiro!

Uma aventura.

Por: Malude Maciel - Jornalista, Escritora e Membro da ACACCIL 
Cadeira 15 – Profa. Sinhazinha.


You may also like

Nenhum comentário: