AS GRANDES ENCHENTES ESTÃO DE VOLTA?

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José Nivaldo Júnior.


O Rio Capibaribe transbordou várias vezes no Recife nas décadas de 1960 e 1970. Eram enchentes enormes, que inundaram e   invadiam residências, deixando milhares de desabrigados.  Morando como estudante no bairro do Prado, vivi todas elas. Em 1966, a casa do meu avô, que ainda está lá, hoje abandonada aguardando um fim de inventário, (Rua Carlos Gomes, 290) ainda não tinha primeiro andar. Deu quase 1 metro d’água na sala.  Tivemos que nos mudar para o sobrado do vizinho, eu e Tio Newton carregando vovô que estava em estado terminal com os braços para cima pois a água na rua chegava quase aos nossos pescoços.

SEMPRE PIOR

Em 70 foi pior, 75 pior ainda.  Era Julho, eu estava em Surubim. Na época, morávamos num sobrado na rua Itapecirica. O meu irmão Ricardo, quando veio a notícia da iminência da enchente, subiu tudo. Colocou um móvel em cima da mesa da sala e em cima do móvel a preciosa televisão colorida. Não adiantou. A altura e o balanço das águas fizeram a mesa desequilibrar, tudo foi parar na água e na lama.

Era correnteza forte. Tio Newton tinha uma fábrica de refrigerantes, na avenida Caxangá. As águas arrombaram do portão de trás à porta da frente. Só não arrastaram os caminhões que cobertos de barro, não passaram nas portas  e as máquinas fixas, que  foram danificadas pela lama. Mas resistiram.  O resto, dos engradados às garrafas, da matéria prima aos rótulos, tudo foi levado. Inclusive ferramentas e equipamentos não fixos.  Perda quase total. Histórias como essa aconteceram aos milhares. 

AS BARRAGENS

Depois de 1970, o governo do Estado construiu a barragem de Tapacurá, imaginando conter as enchentes. Foi absolutamente insuficiente. Em 75, quase não choveu na Região Metropolitana. A cheia veio das cabeceiras do Capibaribe, engrossou pelo Agreste. Em Limoeiro, eu vi. O rio cobriu a antiga ponte.  Dra Nesse, minha mãe, tinha ido fazer uma anestesia no hospital de Limoeiro. Não conseguiu atravessar, a sorte foi que a casa de Tia Nelly ficava daquele lado. Se arranchou por lá.

AS BARRAGENS

O general Geisel, que ocupava a Presidência da República, sensibilizado, ordenou a construção da barragem de Carpina para conter as águas. Mais tarde, foi a vez da barragem de Jucazinho reforçar o sistema. Aí resolveu o caso do Recife.

CHEIA PONTUAL

Em 1990, uma grande chuva provocou o rompimento de uma barragem em Aldeia. O Capibaribe transbordou e invadiu as áreas ribeirinhas na Várzea, Caxangá, Cordeiro, Torre. Um estrago localizado, pontual, muito menor que os anteriores. De lá para cá, o Capibaribe não tirou o sono de quase ninguém.

ENTRETANTO

Outras cidades sempre foram e continuaram sendo vítimas das cheias dos seus rios locais. Arrasadas pelas águas, com suas populações pagando um alto preço. Como aconteceu na Mata Sul e Mata Norte do Estado, mais de uma vez. A cada calamidade, visitas, auxílio emergencial, promessas de obras de contenção. Dois meses depois, ninguém fala mais no assunto. O dinheiro alocado para as obras, evapora junto com as águas.

NO FIM DE MAIO

O Capibaribe voltou a transbordar no Recife. Invadiu com suas águas barrentas muitas ruas adjacentes. Foi uma cheia, pequena, em relação às antigas.  Mas aconteceu.  Houve falhas no sistema de comportas das barragens? Possibilidade levantada por especialista no Jornal O PODER. A ser investigada, talvez caiba até uma CPI.

O certo é que além dos alagamentos causados pelas fortes chuvas, tivemos, NA CAPITAL,  a volta de alagamentos provocados por águas barrentas trazidas pelo Capibarjbe,  que vêm de longe.

Muito aquém, felizmente, das grandes cheias do Recife. Porém, lembra a história, foi assim que tiveram início as antigas tragédias.

EM OUTRAS CIDADES

Rios que não tiveram obras de contenção continuam provocando tragédias.

Cenas que aconteceram em Goiana, Macaparana, Paudalho e Jaboatão, por exemplo, são assustadoras. Nem se pode culpar os poderes locais. São águas que vêm de longe, chegam com força causando devastação. Os vídeos postados nas redes sociais são impressionantes.

RECIFE SOB ALERTA


Para dar uma ideia às novas gerações do que representavam as antigas enchentes, recomendo uma olhada no vídeo produzido pela turma do Recife Ordinário. Não é original, mas serve.  Chamo a atenção para a cena do estádio do Sport, na Ilha do Retiro. Com a água do Capibaribe alagando o gramado. Alta.  Cobrindo as traves.

E O FUTURO?

Todo alerta é pouco. 

Ou se trata com seriedade o plano de contenção que, está provado, feito com seriedade e sem maracutaias, funciona. Ou a população da capital é de dezenas de cidades  estará à mercê da vontade da natureza.

Ação já.  Para que nunca mais aconteça.

Por: José Nivaldo júnior.



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