TEMPOS MODERNOS

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José Vieira Passos Filho.


Sabe-se que a sociedade mudou. “Os tempos são outros”. Nos meus 70 anos, passei por muitas mudanças. Algumas me assustaram. É normal. Mas a gente vai mudando hábitos, caminhando...

Um desses dias, cheguei em casa e encontrei minha neta de 20 anos conversando com uma amiguinha. Falavam de maquiagens, penteados da moda, produtos de beleza. Entrei na conversa e perguntei sobre as festas de final de ano em Maceió. A neta falou assim: “Vô, Maceió vive em festa. Na última semana do ano tem festa toda noite. É só escolher”. Perguntei quanto custava para participar de cada festa. Ela falou que era a partir de R$ 200,00 e que os shows do dia 31 de dezembro iam custar o triplo. Eu, cá com meus botões, passei a listar as despesas que tem hoje um casal de classe média nesses tempos modernos: creche para os filhos, colégio particular, faculdade, prestação de veículos, celulares, roupas de marca compradas nos shoppings centers, almoço ou jantar em restaurantes nos finais de semana, as despesas de casa, condomínio, ar refrigerado, pagamento de água, energia, gás canalizado e combustível para os veículos. Tem ainda os eventos dos finais de semana exigidos pelos filhos. Despesas com remédios para emagrecer ou engordar, para controlar o colesterol, a pressão. Vem ainda as cirurgias estéticas no rosto, no busto, a lipoaspiração. Implante dentário e capilar. É muita coisa!!! Hoje, ambos os pais precisam trabalhar para poder cumprir os compromissos financeiros da família. 

É certo que a modernidade dá mais comodidade e facilidades; porém exige muitas horas de trabalho dos pais, que ficam sem tempo para conviver com os filhos. Terão sorte se um filho não enveredar para o vício das drogas. Ou o menino engravidar a namorada ou a filha, ainda novinha, engravidar. 

Nos tempos modernos as famílias reduzem o número de filhos. Apenas um ou dois, por causa das despesas. Vivem em apartamento. É mais cômodo porque não precisa ter uma doméstica em tempo integral. Passa a ter somente faxineira uma ou duas vezes por semana. O apartamento dá mais segurança contra a violência urbana. Nos tempos modernos os carros do casal, e depois dos filhos, têm garagem exclusiva. O gás é canalizado e faz parte da despesa do condomínio, junto com a conta da água. Um veículo vem apanhar os filhos para a escola e trazer em casa. Nada de preocupação com lanche para levar para a escola. Paga-se mensalmente esse extra ao colégio ou eles lancham na cantina. Levar lanche de casa envergonha. 

Nos tempo modernos as crianças antes mesmo de aprenderem a ler já usam o celular dos pais. Aos seis anos são presenteados com um smartphone. As crianças usam o whatsapp com desenvoltura, mas só se comunicam com seus “grupos de amigos”. Quando a família está em casa, o silêncio só é quebrado quando a televisão está ligada nas novelas ou no noticiário televisivo, que só noticiam tragédias e roubalheiras políticas. Assim a família fica separada. Enquanto uns estão interessados em negócios, operações bancárias, etc., outros estão ligados em seus próprios interesses. Dificilmente a família se reúne às refeições, porque todos têm horários diferentes. 

Nos tempos modernos a família tem oportunidade de estar um tempinho junta. Um final de semana prolongado em um resort “all inclusive”, onde desfruta de uma incrível mordomia. Viagem inesquecível, com fotografias em celulares que ficam registradas por um tempo, até o aparelho ser substituído por um mais moderno. Não vai ter nenhum álbum para a posteridade daquela pequena família.  Tempos depois a família vai perder até mesmo o contato com os parentes mais próximos, porque muitos deles vão se mudar para centros mais adiantados, quiçá para o exterior.

Nos “Tempos Modernos”, filme de Chaplin, da década de 1930, Carlitos se revolta contra as máquinas industriais. O filme mostrava o pré-início da industrialização, da automação. Nos tempos modernos não temos porque nos revoltar, porque é bom, é cômodo. Só podemos perguntar: onde tudo isso vai nos levar?

Por: José Vieira Passos Filho - Pres. da Academia Alagoana de Cultura, Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, Sócio Efetivo da Academia Maceioense de Letras, 
Sócio Honorário do SOBRAMES (AL), Sócio Efetivo da Comissão Alagoana 
de Folclore. Presidente da ALB de Alagoas.


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