O TRIUNFO DO BAIXO CLERO

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 José Nivaldo Júnior.


Como não tenho bola de cristal, não sei como anda a saúde do presidente Bolsonaro, submetido a um procedimento médico administrado de forma tão grotesca e irresponsável que se compara à criminosa gestão do colapso adotado com o então Presidente Tancredo Neves. Espero que dessa vez o paciente reaja melhor e tudo esteja às mil maravilhas. Mas, convenhamos, despachar como Presidente 48 horas depois de uma cirurgia de alto risco é algo que entra no departamento do inacreditável. No entanto, como os leitores, eu assisti pela televisão o absurdo ser anunciado e praticado sem que ninguém (nem eu mesmo) tenha levantado a voz para protestar.

Mais que uma vida humana, estava em jogo a vida do Presidente da República ainda no início do mandato. Muitos, ainda guardando rancor retardatário da campanha, podem ter desejado até um desfecho negativo. Podem não. Desejaram. Li isso de raivosos e inconformados oposicionistas nas redes sociais. Lamentável. Além de bem pouco cristão.

A sociedade ainda está em fase de acomodação aos novos tempos definidos pelo eleitor nas urnas de outubro. Os próprios vencedores estão ajustando o livre pensar do discurso de campanha ao pragmatismo que a realidade da administração exige. Descumprimento de promessas? Não vejo isso. Ajuste ao mundo real, que é sempre mais complexo do que qualquer visão simplista possa abarcar.

Nessa adaptação geral, a mídia, os que formam opinião, também precisam compreender que novos tempos trazem outros códigos e outros valores.

Um exemplo que não vai envelhecer tão cedo envolve a eleição para a presidência da Câmara e do Senado.

As vitórias em primeiro turno de Rodrigo Maia, até outro dia um opaco deputado sem nada de notável no currículo; e de Davi Alcolumbre (é assim mesmo que se escreve?) um jovem e anônimo senador do Amapá, trazem uma carga simbólica muito mais forte da que foi propagada pelos meios de comunicação. Representam o completo triunfo do chamado “baixo clero”, ou seja, aqueles parlamentares que raramente se destacam e se perdem sem brilho na massa dos mais de 500 parlamentares que disputam seus 15 minutos de fama para terem o que exibir ao seu eleitorado.

Ofuscados pelos colegas que ocupam a mídia e os cargos e do alto do seu protagonismo desdenham dos que vagam sem reconhecimento pelos gabinetes, corredores, plenário, cafezinho.

Pois bem, os ventos da mudança chegaram capitaneados (desculpem o trocadilho) por Jair Bolsonaro, que até o ano passado parecia condenado eternamente ao purgatório do baixo clero.

Já se falou muito sobre a vitória do militar. Mas se já foi dito o que vou falar agora, não ouvi. Antes e acima de tudo, a vitória de Bolsonaro significou o triunfo do cidadão comum, cansado de ser governado por um velho cacique como Sarney, um intelectual brilhante como FHC, um líder messiânico como Lula ou um poste sem luz como Dilma.

Como os luminares e a jabuti na árvore não resolveram, o povo resolveu apostar no cidadão comum. Naquele que fala coisas que são entendidas e diz bobagens sem constrangimento. Gente como gente, que parte da sociedade transformou em mito. Como se o povo, finalmente, mitificasse a si próprio.

Por não compreenderem isso, para muitos é tão difícil explicar certas coisas desse começo de governo.

Por isso, os analistas que apostavam na velha raposa Renan passaram tão batidos como o próprio. Dando destaque a espectros pitorescos do processo, esquecendo o essencial.

A conclusão é simples:

As eleições da Câmara e do Senado alinharam o legislativo com a vontade das ruas.

Mudanças. Que vêm sempre por caminhos sinuosos. Para melhor ou pior, o tempo dirá.

Por: José Nivaldo Júnior - Publicitário e historiador. 
Consultor de imagem política, governamental e soluções empresariais. 
Da Academia Pernambucana de Letras.



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